“A arte é a contemplação: é o prazer do espírito que penetra a natureza e descobre que ela também tem uma alma. É a missão mais sublime do homem, pois é o exercício do pensamento que busca compreender o universo, e fazer com que os outros o compreendam.”
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Auguste Rodin
Svetlana Valueva nasceu em Moscou em 24 de outubro de 1966 e se recorda de desenhar e pintar desde bebê. Segundo sua mãe, as pinturas de um pássaro, um animal parecido com um cão e uma rainha foram feitas com 18 meses de idade. Seu pai, um artista, reconheceu o talento da menina e se tornou seu primeiro e mais importante professor, encorajando-a a pintar junto com ele em seu estúdio. Com 5 anos, Svetlana começou a escrever poemas e contos, expressando os sentimentos dos personagens que desenhava. A arte dessa criança prodígio é parte da coleção particular de seus pais. Atualmente, pinta mulheres em contraste com formas bizarras, para celebrar sua beleza e aprecia transformações e diversidade. O espaço entre as margens de um quadro deve refletir vida, como um espelho. A nostalgia pela magnífica Idade da Prata na Rússia atraiu Svetlana para o passado, um período conhecido no ocidente como art nouveau.
Vês! Ninguém assistiu ao formidável Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera! O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro! O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga, Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Augusto dos Anjos
Augusto dos Anjos nasceu no Engenho Pau d'Arco, no município de Sapé, estado da Paraíba. Foi educado nas primeiras letras pelo pai e estudou no Liceu Paraibano, aonde viria a ser professor em 1908. Precoce poeta brasileiro compôs os primeiros versos aos sete anos de idade.
Em 1903, ingressou no curso de Direito na Faculdade de Direito do Recife, bacharelando-se em 1907. Em 1910 casa-se com Ester Fialho. Seu contato com a leitura influenciaria muito na construção de sua dialética poética e visão de mundo.
Com a obra de Herbert Spencer, teria aprendido a incapacidade de se conhecer a essência das coisas e compreendido a evolução da natureza e da humanidade. De Ernst Haeckel, teria absorvido o conceito da monera como princípio da vida, e de que a morte e a vida são um puro fato químico. Arthur Schopenhauer o teria inspirado a perceber que o aniquilamento da vontade própria seria a única saída para o ser humano.
E da Bíblia Sagrada ao qual, também, não contestava sua essência espiritualística, usando-a para contrapor, de forma poeticamente agressiva, os pensamentos remanescentes, em principal os ideais iluministas/materialistas que, endeusando-se, se emergiam na sua época.
Essa filosofia, fora do contexto europeu em que nascera para Augusto dos Anjos seria a demonstração da realidade que via ao seu redor, com a crise de um modo de produção pré-materialista, proprietários falindo e ex-escravos na miséria. O mundo seria representado por ele, então, como repleto dessa tragédia, cada ser vivenciando-a no nascimento e na morte.
Dedicou-se ao magistério, transferindo-se para o Rio de Janeiro, onde foi professor em vários estabelecimentos de ensino. Faleceu em 12 de novembro de 1914, às 4 horas da madrugada, aos 30 anos, em Leopoldina, Minas Gerais, onde era diretor de um grupo escolar. A causa de sua morte foi a pneumonia.
Durante sua vida, publicou vários poemas em periódicos, o primeiro, Saudade, em 1900. Em 1912, publicou seu livro único de poemas, Eu. Após sua morte, seu amigo Órris Soares organizaria uma edição chamada Eu e Outras Poesias, incluindo poemas até então não publicados pelo autor.
Tinha no olhar cetíneo, aveludado, A chama cruel que arrasta os corações,
Os seios rijos eram dois brasões
Onde fulgia o símb'lo do pecado.
Bela, divina, o porte emoldurado No mármore sublime dos contornos,
Os seios brancos, palpitantes, mornos,
Dançavam-lhe no colo perfumado.
No entanto, esta mulher de grã beleza, Moldada pela mão da Natureza,
Tornou-se a pecadora vil. Do fado
Do destino fatal, presa, morria, Uma noite entre as vascas da agonia,
Tendo no corpo o verme do pecado!
De onde ela vem?! De que matéria bruta Vem essa luz que sobre as nebulosas
Cal de incógnitas criptas misteriosas
Como as estalactites duma gruta?
Vem da psicogenética e alta luta Do feixe de moléculas nervosas,
Que, em desintegrações maravilhosas,
Delibera, e depois, quer e executa!
Vem do encéfalo absconso que a constringe, Chega em seguida às cordas da laringe,
Tísica, tênue, mínima, raquítica...
Quebra a força centrípeta que a amarra, Mas, de repente, e quase morta, esbarra
No molambo da língua paralítica!
Eu, filho do carbono e do amoníaco, Monstro de escuridãoe rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.
Profundissimamente hipocondríaco, Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme - este operário das ruínas - Que o sangue podre das carnificinas
Come, e á vida em geral declara guerra, Anda a espreitar meus olhos para roê-los, E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!
A nebulosidade ameaçadora
Tolda o éter, mancha a gleba, agride os rios
E urde amplas teias de carvões sombrios
No ar que álacre e radiante, há instantes, fora.
A água transubstancia-se. A onda estoura
Na negridão do oceano e entre os navios
Troa bárbara zoada de ais bravios,
Extraordinariamente atordoadora.
A custódia do anímico registro
A planetária escuridão se anexa...
Somente, iguais a espiões que acordam cedo,
Ficam brilhando com fulgor sinistro
Dentro da treva omnímoda e complexa
Os olhos fundos dos que estão com medo!
Bem depressa sumiu-se a vaporosa Nuvem de amores, de ilusões tão bela;
O brilho se apagou daquela estrela
Que a vida lhe tornava venturosa!
Sombras que passam, sombras cor-de-rosa - Todas se foram num festivo bando,
Fugazes sonhos, gárrulos voando
- Resta somente um'alma tristurosa!
Coitada! o gozo lhe fugiu correndo, Hoje ela habita a erma soledade,
Em que vive e em que aos poucos vai morrendo!
Seu rosto triste, seu olhar magoado, Fazem lembrar em noite de saudade
A luz mortiça d'um olhar nublado.
A Esperança não murcha, ela não cansa, Também como ela não sucumbe a Crença.
Vão-se sonhos nas asas da Descrença,
Voltam sonhos nas asas da Esperança.
Muita gente infeliz assim não pensa; No entanto o mundo é uma ilusão completa,
E não é a Esperança por sentença
Este laço que ao mundo nos manieta?
Mocidade, portanto, ergue o teu grito, Sirva-te a crença de fanal bendito,
Salve-te a glória no futuro - avança!
E eu, que vivo atrelado ao desalento, Também espero o fim do meu tormento,
Na voz da morte a me bradar: descansa!
Como um fantasma que se refugia Na solidão da natureza morta,
Por trás dos ermos túmulos, um dia,
Eu fui refugiar-me à tua porta!
Fazia frio e o frio que fazia Não era esse que a carne nos conforta...
Cortava assim como em carniçaria
O aço das facas incisivas corta!
Mas tu não vieste ver minha Desgraça! E eu saí, como quem tudo repele,
-Velho caixão a carregar detroços-
Levando apenas na tumbal carcaça O pergaminho singular da pele
E o chocalho fatídico dos ossos!
Quando nasci, num mês de tantas flores, Todas murcharam, triste, langorosas,
Tristes fanaram redolentes rosas,
Morreram todas, todas sem olores.
Mais tarde da existência nos verdores Da infância nunca tive as venturosas
Alegrias que passam bonançosas,
Oh! Minha infância nunca teve flores!
Volvendo a quadra azul da mocidade, Minh'alma levo aflita à Eternidade,
Quando a morte matar meus dissabores.
Cansado de choras pelas estradas, Exausto de pisar mágoas pisadas,
Hoje eu carrego a cruz das minhas dores!
Minha proposta, ao criar este espaço, é conviver com pessoas que, como eu, apreciam e se nutrem na boa arte. Juntar, a cada sessão de postagens, um artista plástico e um poeta, emoldurados por uma música envolvente, é uma forma de estimular os sentidos. Todos os dias precisamos nos alimentar e descansar. A arte nos ajuda nisso e refina nosso espírito. Sou filósofa por formação acadêmica e me agrada muito a estética da arte. A Fada do Mar Suave, como título, é uma personagem que me permite ficar no mundo dos sonhos, e não precisa ser relacionada com a imagem física de uma pessoa.
A Fada do Mar Suave circula pelo Orkut há bem uns dez anos e este blog surgiu em janeiro de 2009. Formalmente, o site WWW.fadadomarsuave.com.br se encarrega de sustentar o registro legal do nome e, de forma prática, reendereça todos os visitantes para este blog, http://fadasuave.blogspot.com . Não tenho equipe, trabalho sozinha e quem quiser fazer qualquer observação, é só deixar mensagem.
Agradeço aos artistas e poetas, que autorizam nossas postagens.
Com amor,
Fada do Mar Suave
São Paulo, SP, Brasil
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