Philip Hone Williams





O Tempo da Paixão

                                    Nathan de Castro

Quando em silêncio visto a fantasia
de um sonho amarelado, perco a hora
do trem fantasma, a rima sangra e chora
deixando o frio, as tumbas e a fobia!

Velórios não me encantam, mas lá fora
a procissão das quadras faz folia
e bailando em meus palcos, sentencia:
__O tempo da paixão é aqui e agora!

Ah!... Meu amigo, não percas a aurora,
pois as canções nas mãos dessa Senhora
do tempo, são fiéis à sinfonia...

Veste o momento e o traje que apavora,
deixa o medo de lado e a poesia,
cumpre, antes que se apague a luz do dia.




Philip Hone Williams



 

 

 

 



O Cara

Nathan de Castro


Eu sou o cara e a cara que apresento
tem os sinais e as marcas da loucura
de bardo atrapalhado em meio à fúria
das tempestades mórbidas do tempo.



Eu sou o cara e o cara que alimento
tem fome de poesia e uma fratura,
causada pelas pedras da luxúria,
no peito acostumado ao passatempo.



Eu sou o cara, o morto-vivo, o ausente,
o que perdeu o amor e, numa prece,
quis ter de volta os olhos do poeta.



Voltar a ser criança?... Felizmente,
o tempo não tem volta e, se tivesse,
traria as mesmas rugas na careta.

***



Nathan de Castro Ferreira Júnior nasceu em 23 de janeiro de 1954, em Olhos d'Água, município de João Pinheiro-MG. Passou a infância e a adolescência na bela cidade mineira de Patrocínio. Foi para a capital paulista em 1969 e depois de três anos em São Paulo, regressou a Patrocínio e ingressou na carreira bancária em 1975, especializando-se em cursos de relações humanas, finanças e áreas bancárias, o que o levou a trabalhar em diversas cidades de Minas Gerais e Goiás. Atualmente, tem residência em Uberlândia/MG.
Publicou Sentença de um poeta (Blocos Editora, 2003). Participou de várias antologias e recebeu alguns prêmios, entre eles o II Prêmio Literário Livraria Asabeça (Scortecci Editora).


1001 Noites de Sonetos & Rabiscos - Livro individual - Scortecci Editora, 2005


Philip Hone Williams


 
Philip Hone Williams   não dá a mínima para alguns padrões e nem sequer se preocupa em colocar uma biografia em seu blog. mas adianta um breve comentário sobre seu trabalho: “Trabalhei durante 15 anos com arte digital, mas já havia estudado pintura a óleo antes. E agora estou voltando à pintura a óleo...mas aprendi muito sobre arte digital e agora estou trabalhando em maneiras de misturar as duas coisas.”







 

 

 

  

 
Soneto com Nó

                                         Nathan de Castro


Cobertor de poeta é um agasalho,
que não serve aos anúncios da estação.
Quando frio, reveste-se de orvalho,
no calor, logo abraça a solidão.



Se num verso me cubro, noutro falho
e revelo o outro lado da canção.
As mentiras aceito e delas valho-
me, mesmo quando o peito diz que não.



Da pena à folha branca, me atrapalho
com os verbos e tempos da oração,
vou perdido e com passos de espantalho



sigo os trilhos abertos na emoção.
E, no ponto final, quebrando o galho,
dou um nó no soneto e lavo as mãos.




Philip Hone Williams



 

 






 
Soneto para dizer nada
                                   Nathan de Castro

Somente o verso acalma o meu poeta
e acende a passarada das manhãs.
Voar fica mais leve se a caneta
sabe a saudade e o gosto das maçãs.



O amor foi um presente e me completa,
mesmo perdido e longe das canções...
A vida sem paixão é paz deserta,
sem lágrimas, perfumes e emoções.



Feliz, busco a palavra que não disse,
e digo nada... E nada é muito mais
do que todas as letras que cumprisse,
para enfeitar meus cantos madrigais.
Tenho a emoção do verso e essa doidice
de ver uns colibris nos meus umbrais.





Philip Hone Williams



 

 

 

 

 
Capa de Revista

                                                                                    Nathan de Castro




Deixei passar, passou e agora a dor no verso
que me provoca, veste sempre o meu semblante
anuviado, pálido e de olhar disperso,
a buscar no vazio o seu abraço amante.



E a flor? Era vermelha, rosa ou amarela?
Perco no espaço o beijo que traz os sabores
e o gosto da saudade amarga, me revela
que a paz da solidão esquece o tom das cores.



Da flor que joguei fora ao vento da conquista,
ficou o adocicado perfume dos lábios
e o gosto de batom na capa da revista



folheada, rasgada e esquecida no canto
da cama, onde a tristeza de lençóis sombrios
te despe toda noite, para o meu espanto.