VESTE
(para Berijo Wanderley)
Mãos de lã, a morte
A roca move
E fia fina veste
De não e cinza.
Dura o oficio
Horário de infinito
Para a veste que fia
Noite e dia.
Não veste a veste
Nem a lã aquece
O que amanhece
E anoitece
Tem vez e voz
E circunavega
Em circunstâncias.
Mas veste a veste
Para quem os fis crescem
E se cruzam
Cruzes com cruze
Na tessitura.
A Morte veste a veste
A quem seus dardos mostram
Quando seus dados joga.
E a medida já se faz exata.
Tão sutil a negra roca fia
O fio que juntado a parte
A veste que vestindo rasga
Aquele que o veste
E rasgando o limite rompe
Na horizontalidade.
Fiando a veste fina
De frigida pluma
E atenta morte
De frio veste
Com mãos de lã, fios de nada,
Aquele a quem a sorte tira.
O que assim vestido fica
É infinito e lã.
Então a morte a roca estanca
E endurece a veste
Com suas mãos de lã.
E a veste quem vestido esta
Já não é veste, mas armadura.
Nem armadura, já é mordaça.
Nem mordaça, desligamento.
Esquecimento.
Ou nada.
A veste amém
De fina lã
Não e cinza
Veste o sono sem veste
Que não veste o sonho
De quem assim vestido está.
Myriam Coeli