John William Waterhouse

John William Waterhouse








" E o Resto é Silêncio..."


E então ficamos os dois em silêncio, tão quietos
como dois pássaros na sombra, recolhidos
ao mesmo ninho,
como dois caminhos na noite, dois caminhos
que se juntam
num mesmo caminho...

Já não ouso... já não coras...
E o silêncio é tão nosso, e a quietude tamanha
que qualquer palavra bateria estranha
como um viajante, altas horas...

Nada há mais a dizer, depois que as próprias mãos
silenciaram seus carinhos...

Estamos um no outro
como se estivéssemos sozinhos...



J.G. Araujo Jorge


John William Waterhouse





" Tormentas "


Ouço lá fora o ruído da tormenta
e através do emabaciado da vidraça
- vejo um clarão que as nuvens despedaça
ao rimbombar de uma explosão violenta...

Há uma luta de massa contra massa
na amplidão que rasga e se arrebenta,
- e o vento chora, e o vento geme, e o vento passa,
e o vento grita, e o vento brada, e o vento venta...

E eu só... sozinho... este meus versos faço...
- Que bem me faz ver os clarões no além
como nervos de luz brechando o espaço...

E o que sinto - ninguém, certo, advinha,
só eu mesmo, talvez, porque sei bem
que ante essa outra tormenta esqueço a minha !

J.G. Araujo Jorge


John William Waterhouse





" Mágico "


Antes, empilhei palavras sonoras,
fabriquei imagens e símbolos
como um mágico de minha arte,
fiz prestidigitação.

Agora, sinto que é poesia.
As palavras vem do coração
e não posso tocá-las.

J.G. Araujo Jorge


John William Waterhouse




"
Interlúdio "



Há uma estranha ternura, há uma estranha meiguice
na expressão de teu rosto e em teu modo de ser.
Criança e mulher... talvez, ainda ninguém te disse
o que, com o meu olhar, confessei, sem querer...

Teu olhar... esse teu olhar adolescente
onde há um misto de sonho e indeciso desejo,
me perturba e emociona inesperadamente
sempre que em meu caminho, eu te encontre, eu te vejo...

Quando vens para mim, e te sinto ao meu lado
a olhar-me nos olhos, terna, fundamente,
teu coração, - bem vejo, - é um pássaro agitado,
a bater em teu peito, as asas, febrilmente.

Que fazer? E essa dúvida atroz me alucina.
Em teus olhos inquietos, há um clarão qualquer.
Devo deixar passar a criança, a menina,
ou devo transformar a menina em mulher?

J.G.Araújo Jorge


John William Waterhouse



John William Waterhouse




" O Espelho "


Dizias não gostar dele...
Mas já te vais acostumando à sua silenciosa
presença...

Mudo espectador só ele tem o direito de assistir também
às redescobertas de tu beleza.

Tu me chamas de louco, porque às vezes,
não contente de ver-te a face,
te surpreendo em descuidadas revelações
em seus olhos prateados...

Então te enches de imprevisíveis pudores
como se ele, mudo e dissimulado,
tivesse alma, e pudesse ser um estranho alguém
presente em nossa intimidade.

Tolice, amor,
por ele posso encontrar num mesmo instante
todas as faces de tua beleza
e multiplicar ao infinito
as loucuras do nosso amor!

J.G. de Araujo Jorge

John William Waterhouse





Silêncio- J. G. de Araujo Jorge

"Em Silêncio..."

Poderíamos ficar assim indefinidamente.

Conversariam nossos olhos.
As palavras cintilariam
e desapareceriam
como fosforecências de algas,
nas areias...

J.G. de Araujo Jorge


John William Waterhouse


" Rosa Mulher... "


Uma rosa não sabe que é uma rosa,
vive a vida feliz que Deus lhe deu,
imagem de beleza silenciosa,
que na ponta de uma haste floresceu...

A beleza de ser tão graciosa,
de ser flor desde o instante em que nasceu,
como você – menina moça – rosa
que é rosa, e disto não se apercebeu...


Rosa em botão – adolescente ainda
com um toque de mistério no semblante
e um doce olhar de uma ternura infinda...


Rosa mulher... E ao encontrá-la, e ao vê-la,
só um desejo me ocorre, obstante:
que a mereça colher... quem a for colhê-la.


J.G. de Araujo Jorge



John William Waterhouse






"
Desfolhando "


Essa boca, pequena, e assim vermelha,
que ao botão de uma rosa se assemelha,
- quanta vez provocava os meus desejos
desabrochando em flor entre os meus beijos...

Essa boca, pequena e mentirosa,
que diz, tanta mentira cor-de-rosa,
- era a taça de amor onde eu saciava
toda a ansiedade da minha alma escrava ...

Beijando-a, compreendia que eras minha...
Meu amor transformava-te em rainha,
teu amor me fazia mais que um rei...

Agora, tu fugiste... E eu sofro, quando
vejo um outro em teus lábios desfolhando
a mesma rosa que eu desabrochei!...

JG de Araujo Jorge