Andrzej Malinowski





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Andrzej Malinowski




Lassidão

Ah, por favor, doçura, doçura, doçura!
Acalma esses arroubos febris, minha bela.
Mesmo em grandes folguedos, a amante só deve
Mostrar o abandono calmo da irmã pura.


Sê lânguida, adormece-me com os teus afagos,
Iguais aos teus suspiros e ao olhar que embala.
O abraço do ciúme, o espasmo impaciente
Não valem um só beijo, mesmo quando mente!

Mas dizes-me, criança, em teu coração de ouro
A paixão mais selvagem toca o seu clarim!...
Deixa-a trombetear à vontade, a impostora!

Chega essa testa à minha, a mão também, assim,
E faz-me juramentos pra amanhã quebrares,
Chorando até ser dia, impetuosa amada!

Paul Verlaine



Andrzej Malinowski









“A vida humilde, cheia de trabalhos fáceis e aborrecidos, é uma obra de eleição que exige muito amor.”

“Não há nada melhor para uma alma do que tornar menos triste outra alma.”

“A esperança reluz como uma haste de palha num estábulo.”

“Agora, livro meu, vai, vai para onde o acaso te leve.”

“Música antes de mais nada.”

Paul Verlaine




Andrzej Malinowski









Mulher e Gata


Ela brincava com a gata
E era admirável ver as duas,
A branca mão e a branca pata,
Brincando à noite, na penumbra.

Ela escondia - a celerada ! -
Sob as mitenes de fio escuro
As assassinas unhas de ágata,
Claras, cortantes, como um gume.

Fingia-se a outra adoçada
E retraía a garra afiada,
Mas o diabo nada perdia...


E no toucador retinia
O som de aéreas gargalhadas
E quatro pontos fosforesciam.

Paul Verlaine (1844-1896)




Andrzej Malinowski






A lua branca
brilha no bosque.
De ramo em ramo,
parte uma voz que
vem da ramada.

Oh! bem-amada!

Reflete o lago,
como um espelho,
o perfil vago
do ermo salgueiro
que ao vento chora.

Sonhemos, é hora...

Como que desce
uma imprecisa
calma infinita
do firmamento
que a lua frisa.

É a hora indecisa...

Paul Verlaine


Andrzej Malinowski






O céu azul sobre o telhado
repousa em calma.
Uma árvore sobre o telhado
balança a palma.


A voz de um sino mansamente
ressoa no ar.
Um passarinho mansamente
põe-se a cantar.


Meu Deus, meu Deus, esta é que é a vida
simples, tranqüila,
como o rumor suave de vida
que vem da vila.

-
Tu que aí choras, que é que fizeste,
dize, em verdade,
tu que aí choras, que é que fizeste
da mocidade?


Paul Verlaine