Bolek Budzyn







SAUDADE

Saudade já saudade
antes saudade
amor de te não ver
porque pressinto

se sinto que te ter
é não saber
distância já agora
e que não minto

Amor de que me calo
e te não digo

amor já saudade
já instinto


Maria Teresa Horta

Bolek Budzyn

 

  

  

  

  

  

  

 
MEMÓRIA


Retenho com os meus
dentes
a tua boca entreaberta

e as palmas das mãos
dormentes
resvalam brandas e certas

As tuas mãos no meu peito
e ao longo
das minhas pernas


Maria Teresa Horta


Bolek Budzyn

 

Bolek Budzyn nasceu em Roubaix, França, em 1950. Influenciado pelo movimento surrealista, desenvolveu uma paixão especial por Dali e Delmotte Delveaux. E se dedica ao que vê como representando a expressão mais pura e concisa do pictórico: Os Primitivos Flamengos. Sua paixão o leva a explorar as diferentes técnicas dos mestres no desenvolvimento de sua pintura: Leonardo da Vinci, Rembrandt, Vermeer, Van Gogh, etc...
A poesia está presente em sua busca pelo absoluto, com uma paixão sem limites por Villon, Baudelaire e Rimbaud. A música também é essencial ao seu trabalho e só pinta com um fundo de música clássica, com uma preferência especial pelo barroco e Mozart, que diz ser mais vital do que o vinho... Admirador do rock de garagem, recorre ao gênero para o seu relaxamento.
Ao dominar as técnicas dos maiores representantes da pintura dos séculos XV e XVI (Van Eyck, Hieronymus Bosch, Memling, Van der Weyden ...)  em um mundo onde a beleza retrata formas de mistura pelo realismo mágico de detalhes e cores, o equilíbrio na variedade de cenas e controle de luz, sob uma imaginação sem limites, Bolek Budzyn é capaz de pintar tanto o retrato de uma mulher pura e angelical) como cenas do tipo apocalíptico. Seu domínio dos esmaltes dá a suas obras uma profundidade de cor e brilho que cria um panorama único. A obra de Bolek Budzyn não permite a ninguém escapar incólume de sentimentos ou emoções...

Bolek Budzyn

www.bolek-budzyn.com/

Contato
E-mail: contact@bolek-budzyn.com
Telefone +33 6 76 21 28 63

  

  

  

  

 


 

 
TU


Com esse teu ar
de arcanjo negro

pálido e magro
triste e alheado

ficas por vezes quase etéreo
calado
enquanto eu te olho docemente

Num espanto condenado
quase místico
debruço-me secretamente à tua beira

e numa espécie de prece
porque existes

alheado- magro
belo e triste

estou de joelhos
meu amor
e beijo-te


Maria Teresa Horta

Maria Teresa Mascarenhas Horta

Nasceu em Lisboa, Portugal , em 20 de Maio de 1937
Escritora portuguesa, nasceu em Lisboa, em 20 de maio de 1937. Estudou na Faculdade de Letras de Lisboa, enveredando depois pela carreira jornalística. Dirigiu o ABC Cine-Clube e fez parte do grupo Poesia 61. Colaborou em jornais e revistas (Diário de Lisboa, Diário de Notícias, Jornal de Letras e Artes, Hidra 1, entre outros) e foi chefe de redação da revista Mulheres.
Feminista, publicou, com Maria Velho da Costa e Isabel Barreno, as Novas Cartas Portuguesas (1971), cujo conteúdo levou as autoras a tribunal.
Dedicou-se ao cine-clubismo, como dirigente do ABC Cine-Clube, ao jornalismo e à questão do feminismo tendo feito parte do Movimento Feminista de Portugal juntamente com Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa. Em conjunto lançaram o livro “Novas Cartas Portuguesas”.
Teresa Horta também fez parte do grupo Poesia 61. Publicou diversos textos em jornais como Diário de Lisboa, A Capital, República, O Século, Diário de Notícias e Jornal de Letras e Artes, tendo sido também chefe de redação da revista Mulheres.
É casada com o jornalista Luis de Barros.
A sua obra encontra-se marcada por uma forte tendência de experimentação e exploração das potencialidades da linguagem, numa escrita impetuosa e frequentemente sensual.


Bolek Budzyn

 

  

  

  

  

  

  

 
INVOCAÇÃO AO AMOR


Pedir-te a sensação
a água
o travo

aquele odor antigo
de uma parede
branca

Pedir-te da vertigem
a certeza
que tens nos olhos quando
me desejas

Pedir-te
sobre a mão
a boca inchada
um rasto de saliva
na garganta

pedir-te que me dispas
e me deites
de borco e os meus seios
na tua cara

Pedir-te que me olhes e me aceites
me percorras
me invadas
me pressintas

Pedir-te que me peças
que te queira
no separar das horas
sobre a língua

Meu ciúme
meu perfil
minha fome

meu sossego
minha paz
minha aventura

Meu sabor
minha avidez
saciedade

minha noite
minha angústia
meu costume


Maria Teresa Horta


Bolek Budzyn

 

  

  

  

  

  

 


TATUABEM

Ossífico a dor
o dia


Tatuagem
de tatuar o espaço
livre

onde a queda
a neve
ou o meio-dia
multiplica

a multiplicação
do sangue
um sulco claríssimo

qualquer coisa
de vário
ou de estranho

a moleza branca
de um calor
rosado

Tatuagem feita
vezes quatro

Aquidade espessa
de chuva sem
passagem

olhos animais de cornos
azuis

e perfilados
com lágrimas por dentro
ou neve ossificada

Tatuagem
tatuo no ventre um filho
Mãe depois e nunca
verificada

Mãe de ovários
duros
e peitos madrugada
com um amante
por noite

um animal

uma harpa

Ou qualquer coisa
de bom
de esquecimento
de sono

o para sempre estar deitada
as pernas
sementes várias

o para sempre estar escolhida
entre mulheres
sem imagem

Tatuagem
violada
que se traz sob um dos
braços

uma agudeza
de água
epiderme rouca e parca

Partida
sem ser viagem

ou despedida
ou embarque

Tatuar
de tatuagem

sede de queda
oxidada

Maria Teresa Horta

Bolek Budzyn

 

  

  

  

  

  

  


Poema antigo


O homem que percorro
com as mãos

e a lua que concebo
na altitude
do tédio


o oceano
penso paralelo - ventre
à praia intata
das janelas brancas
com silêncio

ciclamens-astros
entre as vozes que
calaram para sempre
o verbo - bússola
com raiz - grito de relevo

O homem que percorro
com as mãos

a estátua que consinto
a lua que concebo.

Maria Teresa Horta


Bolek Budzyn

 

  

  

  

  

  

 
Minha senhora de mim


Comigo me desavim
minha senhora
de mim

sem ser dor ou ser cansaço
nem o corpo que disfarço

Comigo me desavim
minha senhora
de mim

nunca dizendo comigo
o amigo nos meus braços

Comigo me desavim
minha senhora
de mim

recusando o que é desfeito
no interior do meu peito


Maria Teresa Horta

Bolek Budzyn

 

  

  

  

 

 

  

Morrer de amor


Morrer de amor
ao pé da tua boca

Desfalecer
à pele
do sorriso

Sufocar
de prazer
com o teu corpo

Trocar tudo por ti
se for preciso

Maria Teresa Horta