Joop Frohwein






[In: "Mevlana: Gülseni"/ "Mevlana: The Rose Garden".
Ed. Enes Kitap Sarayi. Konya, 1995]

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Joop Frohwein





A CASA DE HÓSPEDES


O ser humano é uma casa de hóspedes.
Toda manhã uma nova chegada.

A alegria, a depressão, a falta de sentido, como visitantes inesperados.

Receba e entretenha a todos
Mesmo que seja uma multidão de dores
Que violentamente varrem sua casa e tira seus móveis.
Ainda assim trate seus hóspedes honradamente.
Eles podem estar te limpando
para um novo prazer.

O pensamento escuro, a vergonha, a malícia,
encontre-os à porta rindo.

Agradeça a quem vem,
porque cada um foi enviado
como um guardião do além.


Jalaluddin Rumi

Joop Frohwein





Sofreste em excesso
por tua ignorância,
carregaste teus trapos
para um lado e para outro,
agora fica aqui.

Na verdade, somos uma só alma, tu e eu.
Nos mostramos e nos escondemos tu em mim, eu em ti.
Eis aqui o sentido profundo de minha relação contigo,
Porque não existe, entre tu e eu, nem eu, nem tu.


Jalaluddin Rumi

Joop Frohwein








Se busco meu coração, o encontro em teu quintal,
Se busco minha alma, não a vejo a não ser nos cachos de teu cabelo.
Se bebo água, quando estou sedento
Vejo na água o reflexo do teu rosto.

Jalaluddin Rumi


Sou medido, ao medir teu amor.
Sou levado, ao levar teu amor.
Não posso comer de dia nem dormir de noite.
Para ser teu amigo
Tornei-me meu próprio inimigo.

Jalaluddin Rumi


Teu amor me tirou de mim.
De ti, preciso de ti
Noite e dia, eu queimo por ti.
De ti, preciso de ti.

Jalaluddin Rumi

Joop Frohwein








Não posso dormir quando estou contigo
por causa de teu amor.
Não posso dormir quando estou sem ti
por causa de meu pranto e gemidos.
Passo as duas noites acordado
mas, que diferença entre uma e outra!


Jalaluddin Rumi

Joop Frohwein





À noite, pedi a um velho sábio
que me contasse todos os segredos do universo.
Ele murmurou lentamente em meu ouvido:
- Isto não se pode dizer, isto se aprende.

Jalaluddin Rumi


A fé da religião do Amor é diferente.
A embriaguez do vinho do Amor é diferente.
Tudo que aprendes na escola é diferente.
Tudo que aprendes do Amor é diferente.

Jalaluddin Rumi


- Vem ao jardim na primavera, disseste.
- Aqui estão todas as belezas, o vinho e a luz.
Que posso fazer com tudo isso sem ti?
E, se estás aqui, para que preciso disso?


Jalaluddin Rumi

Joop Frohwein





Faltam-te pés para viajar?
Viaja dentro de ti mesmo,
e reflete, como a mina de rubis,
os raios de sol para fora de ti.

A viagem conduzirá a teu ser,
transmutará teu pó em ouro puro.


Jalaluddin Rumi

Joop Frohwein





Desde que chegaste ao mundo do ser,
uma escada foi posta diante de ti, para que escapasses.
Primeiro, foste mineral;
depois, te tornaste planta,
e mais tarde, animal.
Como pode isto ser segredo para ti?

Finalmente, foste feito homem,
com conhecimento, razão e fé.
Contempla teu corpo - um punhado de pó -
vê quão perfeito se tornou!

Quando tiveres cumprido tua jornada,
decerto hás de regressar como anjo;
depois disso, terás terminado de vez com a terra,
e tua estação há de ser o céu.


Jalaluddin Rumi

Joop Frohwein






Ninguém fala para si mesmo em voz alta.
Já que todos somos um,
falemos desse outro modo.

Os pés e as mãos conhecem o desejo da alma
Fechemos pois a boca e conversemos através da alma
Só a alma conhece o destino de tudo, passo a passo.
Vem, se te interessas, posso mostrar-te.


Jalaluddin Rumi

Joop Frohwein






O MAR É UMA COISA...


a espuma, outra;

Esquece a espuma e contempla o mar noite e dia,

Tu olhas para a ondulação da espuma e não para o poderoso mar.

Como barcos, somos jogados daqui para ali,

Somos cegos, embora estejamos no brilhante oceano.

Ah! tu que dormes no barco do corpo,

Tu vês a água; contempla a Água das águas!

Sob a água que tu vês há outra água que a move,

Dentro do espírito há um espírito que o chama.


Rumi

Joop Frohwein







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"Em cada coração há uma
janela para outros corações.
Eles não estão separados,
como dois corpos.
Mas, assim como duas lâmpadas
que não estão juntas,
Sua luz se une num só feixe."


Jalaluddin Rumi
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Joop Frohwein


Joop Frohwein

Desde sua primeira infância, estava claro que Joop Frohwein (nasceu em Haia, em 1952) tinha a forte necessidade de liberdade para se auto exprimir. Mas, infelizmente, não foi capaz de preencher essa necessidade antes dos anos 80, principalmente pelo fato de ter sido criado em uma família de negócios, na qual não havia espaço para a arte como modo de vida.
Quando concluiu sua educação na Art Academy, mudou-se de sua cidade natal para uma área rural bem mais tranqüila, na região costeira do sul da Holanda. Ao fazer isso, foi capaz de alcançar certo distanciamento das obrigações e expectativas familiares. E na quietude da beira-mar e suas praias sentiu pela primeira vez na vida a paz interna para pintar. Esse foi o começo de sua apaixonada carreira artística. Mais tarde, com a necessidade de um estilo de vida mais romântico, foi tomado pelo caminho seguro da tradição familiar. E mudou-se da orla holandesa para uma região ainda mais tranqüila, na paisagem mediterrânea, onde atualmente vive e trabalha no ensolarado litoral da Turquia.
Conhecendo essa trajetória, as pinturas de Joop Frohwein ficam mais fáceis de serem compreendidas. Sua juventude é uma das chaves para decifrar seu trabalho, combinada com seu desejo por conforto, sossego e felicidade. Joop Frohwein cria pacíficas e harmoniosas imagens, que revelam o que ele deseja para sua vida real. E transforma suas experiências de vida em algo com atmosfera realística e mágica, como forma de escapar das agruras da vida moderna. Encontramos personificações, quase sempre femininas, de aquiescência e modéstia e torna-se fácil entender porque seus trabalhos encontram aceitação em todo o mundo.








O CORAÇÃO e A ALMA


A brisa da manhã trouxe-nos uma mensagem:
Viste tu no caminho um coração pleno de fogo,
Viste tu este coração abraçado e cheio de paixão
Que incendeia cem rochedos de sua chama?


A VISÃO


Quem terá visto algo que em realidade existe, mas não se manifesta?
Quem terá visto o que se manifesta no coração, mas não repousa nos lábios?
Quem terá visto aquele que é a realidade do mundo, mas não se encontra no mundo?
Quem terá visto na existência e na não-existência uma tal não-existência?


Rumi
Rubâi’ât (Paris: Albim Michel, 1993)

Jalal ad-Din Muhammad Rumi., conhecido como Rumi nasceu onde hoje é o Afeganistão e morreu na Turquia, em 17 de dezembro de 1273. É considerado o criador do Sufismo, a vertente mais mística do islamismo.
Acreditava que o exercício do amor era essencial para o amadurecimento e aperfeiçoamento dos seres humanos. Pregava à tolerância, a bondade, a paciência, a calma e a compaixão incondicional.
Depois da sua morte, seus seguidores fundaram a Ordem Mevlevi, que a gente reconhece como aqueles derviches que dançam, girando... Essa dança, chamada sema, é uma forma de oração coletiva.