Alexandra Nedzvetskaya
O eco de mil sinos de prata
O eco de mil sinos de prata
emudece
ante o labor da aranha
O tempo emudece
na cegueira do ar
na sua geografia nula
Que queres de mim
matéria insensível?
Nas coisas conhecidas
o verbo ser
emudece
Ana Hatherly
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Alexandra Nedzvetskaya
Um rio de luzes
Um rio de escondidas luzes
atravessa a invenção da voz:
avança lentamente
mas de repente
irrompe fulminante
saindo-nos da boca
No espantoso momento
do agora da fala
é uma torrente enorme
um mar que se abre
na nossa garganta
Nesse rio
as palavras sobrevoam
as abruptas margens do sentido
Ana Hatherly
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Alexandra Nedzvetskaya
Era assim:
era assim:
queres?
queres algo?
queres desejar?
desejas querer?
desejas-me?
desejas querer-me?
queres desejar-me?
queres querer-me?
queres que te deseje?
desejas que te queira?
queres que te queira?
quanto me
queres?
quanto me
desejas?
ah quanto te quero
quando te quero
quando me queres...
Ana Hatherly
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Alexandra Nedzvetskaya
Os caracóis e as carpas têm cornos
os caracóis e as carpas têm cornos
vês, eu não te dizia?
as carpas e os caracóis não têm cornos
vês, eu não te dizia?
as caracoias e os carpos têm cornos
vês, eu não te dizia?
os carapoicos e os parcos não têm cornos
vês, eu não te dizia?
as carapaias e os porcos têm cornos
vês, eu não te dizia?
os caracoicos e as parras não têm cornos
vês, eu não te dizia?
as carassaias e os parcas têm cornos
vês, eu não te dizia?
os caracorpos e as praias não têm cornos
vês, eu não te dizia?
as caracaias e os poicos têm
vês
Ana Hatherly
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Alexandra Nedzvetskaya
Que é voar?
Que é voar?
É só subir no ar,
levantar da terra o corpo,os pés?
Isso é que é voar?
Não.
Voar é libertar-me,
é parar no espaço inconsistente
é ser livre,leve,independente
é ter a alma separada de toda a existência
é não viver senão em não -vivência
E isso é voar?
Não.
Voar é humano
é transitório,momentâneo...
Aquele que voa tem de poisar em algum lugar:
isso é partir
e não voltar.
Ana Hatherly
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Alexandra Nedzvetskaya
O círculo
O círculo é a forma eleita
É ovo, é zero.
É ciclo, é ciência.
Nele se inclui todo o mistério
E toda a sapiência.
É o que está feito,
Perfeito e determinado,
É o que principia
No que está acabado.
A viagem que o meu ser empreende
Começa em mim,
E fora de mim,
Ainda a mim se prende.
A senda mais perigosa.
Em nós se consumando,
Passando a existência
Mil círculos concêntricos
Desenhando.
Ana Hatherly
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Alexandra Nedzvetskaya
Auto-retrato
Este que vês, de cores desprovido,
o meu retrato sem primores é
e dos falsos temores já despido
em sua luz oculta põe a fé.
Do oculto sentido dolorido,
este que vês, lúcido espelho é
e do passado o grito reduzido,
o estrago oculto pela mão da fé.
Oculto nele e nele convertido
do tempo ido escusa o cruel trato,
que o tempo em tudo apaga o sentido;
E do meu sonho transformado em acto,
do engano do mundo já despido,
este que vês, é o meu retrato.
Ana Hatherly
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Alexandra Nedzvetskaya
OBSTINADAMENTE
Obstinadamente
os anjos
enchem nosso anseio veemente
Sereias do ar
são quimeras da mente
Activo sonho
de nós independentes
da nossa invenção
são reféns ardentes
e da ambição
que a todos seduz
desafio extremo
vertigem de luz
Sobre os despojos das almas escassas
pairam
com suas bocas lassas
Ana Hatherly
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Alexandra Nedzvetskaya
A INVENÇÃO DA RESPOSTA
a invenção da resposta
outrora
em riste
o passo mítico espantoso condensava
da santidade
o insurrecto pudor
o gelo do rubor
a pressa cerrada
agora
em triste
vacuidade
o desafio que expande
cede
degola
o desgarrado nexo do rasgo
Ana Hatherly
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Alexandra Nedzvetskaya
SABER
saber
é saber saber-te
sabermo-nos unir
unirmo-nos
é conhecermo-nos
sabermos ser
por fim sermos
é sabermos
sabermo-nos
conhecermos
a surda áspide
Ana Hatherly
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Alexandra Nedzvetskaya
A matéria das palavras
Estamos aqui. Interrogamos símbolos persistentes.
É a hora do infinito desacerto-acerto.
O vulto da nossa singularidade viaja por palavras
matéria insensível de um poder esquivo.
Confissões discordantes pavimentam a nossa hesitação.
Há uma embriaguês de luto em nossos actos-chaves.
Aspiramos à alta liberdade
um bem sempre suspenso que nos crucifica.
Cheios de ávidas esperanças sobrevoamos
e depois mergulhamos nessa outra esfera imaginária.
Com arriscada atenção aspiramos à ditosa notícia de uma perfeição
especialista em fracassos.
Estrangeiros sempre
agudamente colhemos os frutos discordantes.
Ana Hatherly
Alexandra Nedzvetskaya
Nasceu em 1981, em São Petersburgo, Rússia. Em 2006, formou-se
pelo I.E. Repin Institute for Painting, Sculpture and Architecture
Como qualquer artista realmente talentoso, Alexandra Nedzvetskaya cria seu mundo próprio e único em cada tela. A pintura Outono Feliz, incrivelmente charmosa e encantadora, é a evidência de que a autora é fascinada pelo tema da Idade de Ouro da história russa, do século 18, a época do apogeu palaciano, dos parques em estilo francês cheios de esculturas de mármore. O encanto deste período é característico da história russa, muitas vezes inspirador dos simbolistas russos, como Borisov-Moussatov, Somov, Benois. Uma composição decorativa bidimensional faz o olhar acompanhar a textura das pinceladas vigorosas. A artista conseguiu manter e transmitir com precisão perfeita através de sua gama de cores, sua escolha de detalhes, e a rapidez da visão fugaz, criando uma nostalgia que nos pega tão de repente, como se caminhássemos ao longo dos becos do parque Tsarskoselsky, que desaparece de repente, deixando-nos com a sensação de dor da saudade irrevogável.
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