Aya Kato







SILÊNCIO


Uma tosse rouca,

Lã mole. O "store" que bole,
A noite opaca e oca.

A INSÔNIA

Furo a terro fria.

No fundo, em baixo do mundo,

trabalha-se: é dia.
O PENSAMENTO

O ar. A folha. A fuga.
No lago, um círculo vago.
No rosto, uma ruga.
Guilherme de Almeida


Aya Kato









LEMRANÇA

Confete. E um havia
de se ir esconder, e eu vir
a encontrá-lo, um dia.


INFÂNCIA

Um gosto de amora
comida com sol. A vida

chamava-se "Agora".


MOCIDADE

Do beiral da casa
(ó telhas novas, vermelhas!)

vai-se embora uma asa.


Guilherme de Almeida



Aya Kato






O POETA

Caçador de estrelas.
Chorou: seu alhar voltou
com tantas! Vem vê-las!

Guilherme de Almeida


Aya Kato






DE NOITE

Uma árvore nua
aponta o céu. Numa ponta
brota um fruto. A lua?

O SONO

Um corpo que é um trapo.
Na cara, as pálpebras claras
são de esparadrapo.

NOTURNO

Na cidade, a lua:

a jóia branca que bóia

na lama da rua.
Guilherme de Almeida


Aya Kato

Aya Kato






FILOSOFIA

Lutar? Para quê?
De que vive a rosa? Em que
pensa? Faz o qué?

Guilherme de Almeida


Aya Kato








TRISTEZA


Por que estás assim,
violeta? Que borboleta
morreu no jardim?

Guilherme de Al
meida


Aya Kato









O BOÊMIO

Cigarro apagado
no canto da boca, enquanto
passa o seu passado.

Guilherme de Almeida


Aya Kato










ROMANCE

E cruzam-se as linhas
no fino tear do destino.
Tuas maos nas minhas.

Guilherme de Almeida


Aya Kato








SABEDORIA

Uma ave, poisada
no pára-raio, olha para
o céu. E há trovoada.

Guilherme de Almeida

Aya Kato






O "LOGO DAS HAICAIS"

Esvoaça a libélula.
Esponja verde. Uma concha.
O logo é uma pérola.

Guilherme de Almeida

Aya Kato


INTERIOR

Havia uma rosa
no vaso. Veio do ocaso
a hora silenciosa.

Guilherme de Almeida