Rudolf Hausner
O CALO DE CADA UM
Em homenagem a Ortega y Gasset
Vivo minha vida
Do modo e da melhor maneira que posso
Vivo e faço o que devo
Desejo e não faço o que posso
Vivo porque sei que a conta quem paga sou eu
Eu é quem sofre e carrega o peso das conseqüências
Vivo porque já não acredito nos sonhos
Há somente realidade
Vivo minhas condições objetivas de vida
sem pensar na pseudopotência da plena felicidade
Vivo porque aprendi que vale continuar com os pés no chão e a cabeça erguida
e "não faço ao outro o que não gostaria que fizessem a mim"
Vivo minhas circunstâncias e, caso sinta o sofrimento do outro,
Levanto a mão, digo ADEUS, e continuo minha singela vida.
Lúcio Alves de Barros
Professor/Escritor/Poeta/
Belo Horizonte/MG - Brasil
http://recantodasletras.uol.com.br/autor_textos.php?id=30399
Rudolf Hausner
Chuvas e lágrimas
Ela caiu,
e, em meio às chuvas, veio com as lágrimas de pedra de Deus.
Misturou com o meu oceano de sentimentos
Inundou meus ouvidos
Abafou meu peito
Arrancou sofrimento
Enlouquecida, se derreteu entre as potentes e majestosas águas
Com a inocente enxurrada levou meu espírito
Minha alma de pedra se quebrou ante a chuva forte.
Ela levou tudo
Despencou a casa do meu coração
Invadiu os detalhes dos móveis do meu corpo
Sujou e cegou com lama meus olhos.
Beijou os meus pés e rapidamente sacudiu meu peito
A natureza não perdoa
O calor da chuva que cai
Toma o que foi sempre seu
Na terra enrugada ficaram as conseqüências: a angústia, o desespero, o medo.
Paulatinamente as águas vão baixando
Ainda caem calmos pingos de cansaço e, entre as lágrimas, vejo meus sonhos à deriva.
Lúcio Alves de Barros
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Rudolf Hausner
Ao amigo Homem Urso
Somos amigos
Ele não sabe
Eu sei
O que importa?
Felicidade? Sofrimento?
A vida não tem sentido
A amizade sim
Foi um prazer em conhecê-lo
E como é forte.
O homem é um urso
Levanta cedo, trabalha o dia todo,
conversa com muitos,
Esforça-se por agradar
Ajudar, amar, atrapalhar e organizar.
O homem é um urso
Talvez mais que isso
A noite não tem fim
O dia não tem começo
Pega no batente: vende, compra, negocia
Telefone que toca, atende um, dois, três, vários...
O carro buzina atrás, sai da frente
Ele segue, ultrapassa um, dois, três, vários...
A velocidade é constante,
Cuidado! Olha o sinal,
Pare! Lá vai de novo...
E trabalha, estuda, aprende,
Grava, fotografa e salvaguarda.
O homem é um urso
E vai dirigindo...
Virando, se virando,
destruindo, construindo,
deslocando, atando
Armando, amando e jogando em todos
flores, palavras e poesias...
Esse é o Henrique,
pelo menos o que eu conheço
... e ele é o meu amigo.
Lúcio Alves de Barros
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Rudolf Hausner
Alma Azul
Pequenino ele me olha com olhos de águia
Sinto que vai lá dentro de minha alma triste
Pega alguma coisa que me incomoda
E traz para minha frente o medo do dia e o pavor da noite
Pequenino ele me olha profundamente
Pergunta pela mãe o que há de comer
Lá vai eu de novo sofrendo com as dores de minha alma pálida
E aliviado, por ora, observo-lhe comer
Pequenino ele pede para se banhar
Olha com cara feia e bravo como a de um Leão
Carinhosamente a mãe o segue e penso na ingenuidade e na insegurança de uma criança
Minha alma fica cega, temente e marrom.
Pequenino ele me observa ao longe. Observa meus movimentos, minhas palavras e exageros
Pergunta à mãe onde vai dormir
Sinto minha alma insegura e amarelada
E penso naqueles que resolveram se responsabilizar por uma criança nesse mundo.
Pequenino ele dorme como um anjo
Observo sua respiração profunda e amaciada
Penso o que é a vida simples, acesa e apagada
Já não penso em mim, mas na alma azul e livre da criança que dorme segura e sossegada.
Lúcio Alves de Barros
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