Brungilda




Clareia cinzenta a noite de chuva


Clareia cinzenta a noite de chuva,
Que o dia chegou.

E o dia parece um traje de viúva
Que já desbotou.


Ainda sem luz, salvo o claro do escuro,
O céu chove aqui,

E ainda é um além, ainda é um muro
Ausente de si.

Não sei que tarefa terei este dia;
Que é inútil já sei...

E fito, de longe, minha alma, já fria
Do que não farei.



FERNANDO PESSOA

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