Anke Merzbach




Depois de ter cortado todos os braços que se estendiam para mim;
depois de ter entaipado todas as janelas e todas as portas;
depois de ter inundado os fossos com água envenenada;
depois de ter edificado minha casa num rochedo inacessível aos afagos e ao medo;
depois de ter lançado punhados de silêncio e monossílabos de desprezo a meus amores;
depois de ter esquecido meu nome e o nome da minha terra natal;
depois de me ter condenado a perpétua espera e a solidão perpétua,
ouvi contra as pedras de meu calabouço de silogismos
a investida úmida, terna, insistente, da
Primavera.

Octávio Paz

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