Igor Samsonov










POEMA

Se morro
universo se apaga como se apagam
as coisas deste quarto
se apago a lâmpada:
os sapatos - da - ásia, as camisas
e guerras na cadeira, o paletó -
dos - andes,
bilhões de quatrilhões de seres
e de sóis
morrem comigo.

Ou não:

o sol voltará a marcar
este mesmo ponto do assoalho
onde esteve meu pé;

deste quarto
ouvirás o barulho
dos ônibus na rua;
uma nova cidade surgirá
de dentro desta
como a árvore da árvore.

Só que ninguém poderá ler no esgarçar destas nuvens

a mesma história que eu leio, comovido.

Ferreira Gullar

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