1990
sinto frio de mim
névoas esmigalhadas
em partículas
fumegantes
sondam-me em
arrepios de lucidez
o quê sou eu?
aquela que esmola o que não sabe
e doa o que não pode.
(evanescendo)
quanto de mim
hei de suportar
se de uma artéria
sangra vísceras
de desejos
despossuídos?
a paixão me é nunca
sorve-me
fluidos
do que fui sempre.
a poesia é eternidade
sem valor
(de troca)
ou lastro de afectos
depósito de porvires
sob palavras in-sanas.
ao relento
a ilusão de um olhar
isso é amor
delírio
amarfanhados de nós
refeitos em cada acto
taquicardias de gozo
efêmero.
( a vida é a ficção de um real abandonado)
Ana Paula Perissé*
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