Santiago Ribeiro





Portugal


Avivo no teu rosto o rosto que me deste,

E torno mais real o rosto que de dou.

Mostro aos olhos que não te desfigura

Quem te desfigurou.

Criatura da tua criatura,

Serás sempre o que sou.

E eu sou a liberdade dum perfil

Desenhado no mar.

Ondulo e permaneço.

Cavo, remo, imagino,

E descubro na bruma o meu destino

Que de antemão conheço.

Teimoso aventureiro da ilusão,

Surdo às razões do tempo e da fortuna,

Achar sem nunca achar o que procuro,

Exilado

Na gávea do futuro,

Mais alta ainda do que no passado.


Miguel Torga



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