Bellor
O VERME
O coração, enfermo porque vive
do que morre,debruça-se à janela,
vê a luz desertando-o no declive
entre a vida e a paixão do ser por ela,
e comovido vai compor a tela
em que a reduz para contê-la. Eu tive
essa mesma ilusão, compus a bela
equação passional da mente livre
e pus meu coração nesse vazio.
Mas falhei. Ele nunca permitiu
o oásis ilusório na epiderme
sensível do real. Eu tinha um verme
no coração, que foi roendo o fio
da ilusão e acabou por socorrer-me.
Bruno Tolentino
Extraídos de 41 POETAS DO RIO, org. Moacyr Félix. Rio de Janeiro: FUNARTE, 1998. 514 p.
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