Ana Paula Perissé


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Dante Gabriel Rossetti





Pontes

deixem que pontes
fascinem a cidade nua.


Passageiros
quando de si
a uma beira

chegam

para inventar desejos.


Pulsar em trânsito
encontro de espectros
sem aviso.

(cada onda que em ti bate, estremece vida que se desloca)

Ana Paula Perissé


Ana Paula Perissé



Dante Gabriel Rossetti


***

Dante Gabriel Rossetti




PORTAL


quero desaparecer na simplicidade
num portal que me encerre
na raiz das coisas
como elas simplesmente são.

simples
como o movimento da vida
a respiração dos amantes
o ritmo de ser
o amor em cada pétala que cai.

simplicidade alquímica
nas pálpebras que resguardam
nosso olhar
quase absoluto
obscuro
em segredos
à plena luz.


*Ana Paula Perissé

Dante Gabriel Rossetti

Dante Gabriel Rossetti





Viver Sem Poesia


Viver sem poesia
é funeral à espreita
é dor maior do que a chama da intensidade
que me arde
sempre, por inteira.

Viver sem poesia
é achar um sentido
para o movimento das nuvens
é desmanchar minha loucura
que me aprisiona,
deliciosamente,
por inteira.

Viver sem poesia
é matar minhas paixões
com normopatia
é aniquilar meu não saber,
ambigüidades
fragilidades
que me inquietam
por inteira.

Se sou
sou porque sofro
ao pensar
nas letras a dançar que ainda estão pra serem escritas.
se sou
sou porque sou ardente
por inteira
.

*Ana Paula Perissé


Dante Gabriel Rossetti




Marcas
do continuum de uma história
plena de agoras
outrora
não vividas
irrompem
de forma abrupta
o despertar
do qual tanto anseio.


meu passado
que não se fez
é AION
tempo mágico
ah! venha tomar-me
de assalto
e à ti
me entrego
à acção vindoura
do que ainda me resta
longe de CHRONOS
faminto e brutal
amante de KAIRÒS
desfigurante
vívido, pulsante
e não linear

como numa
brava magia
de Moiras
dançarinas
celebrantes
da Vida
esvoaçante
desejante
pra nós.

Ana Paula Perissé*


Dante Gabriel Rossetti





Sobras

De tudo que me é escolhido
por obra de estranho destino
resta-me persistir em palavras no escuro.
Meus pertences,
que me são?
Tudo que tenho é continuar escrevendo.

oh deus! já te escrevo tanto,
a quem, se te existes?
para quê?
De que me resta descabida procura?
Não encontro mais letras
tampouco versos que combinem
apenas,
um insano desejo de continuar.


Escrever é uma forma de flanar
entender/ captar
será?
com fôrma estranha.

Quiçá,

de sobrar

em sonhos reais.

Ana Paula Perissé