Der Jen









As palavras
São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?


Eugénio de Andrade


Der Jen


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Os espelhos são usados para ver o rosto; a arte para ver a alma.
(George Bernard Shaw)

A arte alcança sempre a finalidade que não tem.
(Otto Maria Carpeaux)

A arte é uma magia que liberta a mentira de ser verdadeira.
(Theodor Adorno)

Der Jen

Der Jen

























Num mar de flores e odores

Nosso amor ondeia

Qual ao mar revolto

Em luta de suor e sal.

Suores salgados, densos e molhados.

Língua lambe língua, lambe tudo.

Bebedeira de suor e saliva

Salgada, molhada, requentada.

Profusão de línguas e desejos

Mornos, quentes, ardentes.

Beijos incessantes, inebriantes...

Beijos.

Um convite ao deleite

Ao prazer, à luxúria, à lascívia...

Tudo gira qual caleidoscópio

Tudo singra cá em nossos corpos

Ralação desorganizada

Paixão desconcertada

Confusão cadenciada

Tensão apaixonada!

(Robert Portoquá)


Der Jen





O Deus de Hoje

Segundo soneto


É preciso que a música aparente
no vaso harmonizado pelo oleiro
seja perfeitamente consistente
com o gesto interior, seu companheiro


e fazedor. O vaso encerra o cheiro
e os ritmos da terra e da semente
porque antes de ser forma foi primeiro
humildade de barro paciente.

Deus, que concebe o cântaro e o separa
da argila lentamente, foi fazendo
do meu aprendizado o Seu compêndio



de opacidades cada vez mais claras,
e com silêncios sempre mais esplêndidos
foi limando, aguçando o que escutara.

Bruno Tolentino*

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