Daniela Ovtcharov

Daniela Ovtcharov






Cofre de silêncios.


Guardo um cofre,
Nem de ouro , nem de cobre.
Um cofre.

Um relicário de silêncios que freqüento,
Que não digo, me permito a liberdade,
Um alento, calo o que no acaso sinto.
E medito, sopro e vibro, cordas que tangem,
Descortino...de verdade in-possível,
Como a saúde possível no limitado
Tempo e espaço que tenho, sou e faço
A sete chaves.
De silêncios, desatinos,
Destinação a caminho,
Tudo e todos cabem, sentem,
No possível.
Nada é fácil...
Compreensível,
Sempre...


GaiÔ.

Daniela Ovtcharov







Busca.

Se busco o silêncio,
 (sim, porque o tenho e guardo)
diviso a luz que caiu,
perdida de um céu que nem sei 
quando existiu. 

Retalhos, difusos desejos 
tenho de um nada que fale,
do cheio que é só vazio,
lampejos, 
plenos de nada ser
que creio me faz sentir
o mistério, o frio.

Sem confundir o saber que sei,
 
o que trago em divino,
busco em mim...
o você.

Gaiô

Daniela Ovtcharov









Dança Coragem.



Façamos a dança coragem,
sem distorcer qualquer imagem.

Mil pernas pro ar, pés
em louca sintonia, 
mandalas em sincronia, fé.

Pura energia,
poética da fantasia,
correr, fazer valer
sensível viagem no ser,
vida essencial,
melodia universal.

Dancemos juntos a canção,
ser humano integral
em busca de integração...


Gaiô

Daniela Ovtcharov








Berço escuro do tempo.



Estrela que a vejo tímida
se contrair no brilho,
respingos de luz no tempo-ninho,
do teu jeito de existir...
Lusco-fusco no escuro berço, se diluir.
Precisas de combustível que a mantenha, 
hidrogênio seja hélio por fusão...
do que tenho.
Se contrai na gravidade 
de ser, de iluminar...
Desistindo de si mesma, 
nada detém seu colapso,
que no amasso carinhoso, 
a absorva pro retorno.
Se retrai completamente,
buraco negro eminente
se perde do amanhecer...
Na retração a expansão
do novo universo por ser...Será? 
Me vejo, me perco em você
no recuo da existência,
na comunhão do ser, se dar
morrer, 
pro novo despertar...

Gaiô

Daniela Ovtcharov








Assombrado.


As amarras se complicam 
ao caminhante que oscila 
na perda do espontâneo.
Assombrado pelo medo, 
pela crítica, 
navegante de si mesmo 
recua, se refugia 
sem coragem de enfrentar
O olhar iluminado, 
a paz libertadora, 
nas profundezas 
do mar...


Gaiô

Daniela Ovtcharov








Pausa pra con-sentir.



No silêncio do branco 
o gesto concreto/sentimento
gesta o silêncio.
Alma generosa fala 
entretido em tecidos poemas
Quanto compreendo!

O ser sente provido
o olhar fixo,
desperta o sorriso,
fluindo no Belo encarnado
de luzes, contemplativo
de inomináveis virtudes...

Distante temporário se estende,
carícia elevo
no con-fluente instante.
Se faz AMOR
em gratitude.


Gaiô

Daniela Ovtcharov








Rotas profundas.


Nave navega quimeras, 
de flores à alma faz entrega
ao branco prateado singrando mares. 
Mastro alçado a bordo do imenso eu 
que sei, de si se perdeu.
Quando o conheceu?

Cai a tarde, posto o sol,
brinca a brisa, ondula ao vento
faces fadadas ao desalento.
Sem tormento...

Mareado, mar interior se esvai
em rotas profundas, confins,
de onde vim???

De não saber onde...
Névoa, nuvem ofuscam
persistentes raios,
luares perseverantes
de luz à míngua, exangue.

No balançar das águas,
Se refaz de persistência,
enfrenta amarras
da vida, intermitências, 
se faz paz,
segue singrando mares...


Gaiô

Daniela Ovtcharov







Arquivo de Sentimentos.



Se revê, quer reinventar.
Do que era só por quês,
só se vê se mudar, dentro.
Abre o arquivo do que foi,
pro medo desmistificar.
Se reveste de coragem, 
encara a fome desvairada desse arquivo,
-os sentimentos-.

Se prepara pra escutar
o que dizem de outros tempos.

Descarta as formas de culpa,
desejos estagnados, amedrontados.
Planeja pra uns solução, 
outros soluços, descartados
sem tempo de perdição,
nunca mais a perfeição.

Ah! Traumas! Se os teve, os trabalhou
amadureceu, encarou,
com eles conviveu, exorcizou...

Bloqueios encara firme,
junta aos medos, pega à unha, 
simplifica, nada são na própria vida 
de incertezas e limites 
à nossa imperfeição.

Olha o Belo e o feio,
sintoniza a harmonia
e o que faz desequilíbrio.

Joga fora, dá um grito 
pondera em libertação.

Paulatino desconforto, 
sofrimento,
força e luz, integração
pra vida recomeçar
no anseio de escutar.
Morte e vida, 
a paz conhecem,
desbravam os sentimentos,
na arte de mergulhar.


Gaiô

Daniela Ovtcharov










Tempo...Tempo...Tempo.



Varal encena delicada cena. 
Dança ao pé do vento,
guardanapos vestidos de renda,
trocam toques,
vestígios do célere tempo.
Saudade acena...

Fiapos trançados de bocas carentes
emaranhados, de antigamente
sussurram sonhos de mesas,
partilhada doçura posta
na troca em presença.
.
Sorrisos falantes, famintos, saciados, 
alma ansiosa de integração.

Trazem carinhos de seda,
sopram murmúrios, lamentos,
tristes fragmentos,
subterrâneo de águas claras
de paz, sossego, 
terno aconchego,
no amarrotado linho, 
o alento.

Lembram delicadezas...

Memória abraça lembranças, 
enlaça afetos de um tempo.
Tempo...Tempo...Tempo...


Gaiô

Daniela Ovtcharov








Paisagem interior.



Ritual do dia sendo...
Paisagem na tarde, quietude, 
me olha e vê, se desvela acontecendo.
Dia desfia em mesmice 
diferente...divina pulsação...
sente.

Extasiada, me surpreendo
no assombro irreal do espanto,
transfigurada.

Sobrenatural me provoca 
como abrigo interior a se expor.
E fala...alma tagarela, 
intimidade exposta, se revela.
Se derrama circunspecta
em respeito e reverência...
Ao sagrado interior
em aquarela,
louva grata
o amor...

Gaiô

Daniela Ovtcharov



Daniela Ovtcharov

Daniela Ovtcharov formou-se em 1989 em conservação e restauração de arte, pela Academia Nacional de Artes, em Sofia, Bulgária, e vive em Albuquerque, New Mexico, nos Estados Unidos. Por meio de suas pinturas, procura levar o público a imaginar e fantasiar, liberando-os da cultura de massa e clichês. “Se a escuridão e o obscurantismo não podem ser removidos, podem pelo menos ser iluminados com uma simples vela. Eventualmente, a arte pode salvar a humanidade”, declara a artista.
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Paz...Ciência.



Densa bruma
Intensa intenção se adensa
num coração que pensa, sente, consente
azuis condensa, tremula
mar de essências
...paz...ciência...
PACIÊNCIA
Consciência.

Gaiô




GaiÔ (Maria A. de Rezende Gaiofatto) 

......Em compasso de silêncios, entremeando acasos, quereres, destino e destinação, vou indo e vindo, no outro, na vida, em busca de mim...Já me vale a sensação de estar aqui a cada instante, sem definições precisas, pois que nada sou a não ser a luz e a escuridão que se alternam na busca do ser... No estar aqui...em qualquer lugar...Educadora aposentada, cidadã paulista de Ribeirão Preto, S.P., três filhas e João, meu grande incentivador, de modo a ir em busca de mim mesma através da expressão artística. Pedagoga pós-graduada me trouxe ao mundo sensível das Artes Visuais cuja formação me despertou ao desenho e pintura, escultura com as quais participei de várias exposições e premiações enquanto cursava a faculdade. Entretanto a educadora e mãe, impossibilitada de perseverar nesta busca, acabou se afastando da participação ativa das atividades pertinentes às expressões plásticas visuais, a não ser no exercício de artista da vida no convívio familiar. Complementando, textos poéticos sempre acompanharam minha estrada feita de Artes e aposentada, me vi envolvida, mergulhada na poesia que me tem fascinado. 
Participei da Antologia Mar de Versos, Ed. Pensata, a publicação da Antologia Poética - Volume I - "Vozes da Alma", após o que lançou Antologia pela Scortecci, na Bienal do Livro (2010), "Encontro Pontual". Mais recentemente, Antologia de Poesias, IX prêmio Literário Livraria Asabeça 2010.