Madeline von Foerster


Saudades!


Sim... talvez... e porque não?...


Se o nosso sonho foi tão alto e forte


Que bem pensara vê-lo até à morte


Deslumbrar-me de luz o coração!


Esquecer!


Para quê?...


Ah! como é vão!


Que tudo isso, Amor, nos não importe.


Se ele deixou beleza que conforte


Deve-nos ser sagrado como pão!


Quantas vezes, Amor, já te esqueci,


Para mais doidamente me lembrar,


Mais doidamente me lembrar de ti!


E quem dera que fosse sempre assim:


Quanto menos quisesse recordar


Mais a saudade andasse presa a mim!


Florbela Espanca

Madeline von Foerster

Madeline von Foerster





Madeline von Foerster




A boca calada.

A respiração cavando silêncios.
As mãos a pesarem
tanto que exilei os gestos
rentes ao coração.
Poiso a cabeça sobre a mão direita
e penso:
para o encontrar de novo
recomeçaria tudo outra vez,
andaria todos os caminhos,
arriscaria a minha vida.
Hora após hora,
ele regressa ao meu pensamento,
e vem do lugar de todas as ausências,
e tem nos braços a mesma curva
onde os pássaros iniciam
o primeiro voo.
Pedir-lhe-ia, agora,
que só uma vez me dissesse:
bebe a minha sede

***Graça Pires

Madeline von Foerster





Flores para Coimbra
Que mil flores desabrochem.
Que mil flores
(outras nenhumas) onde amores fenecem
que mil flores floresçam onde só dores
florescem.
Que mil flores desabrochem.
Que mil espadas
(outras nenhumas não)
onde mil flores com espadas são cortadas
que mil espadas floresçam em cada mão.
Que mil espadas floresçam
onde só penas são.
Antes que amores feneçam
que mil flores desabrochem.
E outras nenhumas não.

Manuel Alegre