Stefan Blöndal






Stefan Blöndal

 


Stefan Blöndal


Nascido em Copenhagen, em 1964, o dinamarquês Stefan Blöndal cresceu em um ambiente musical e sempre cercado pela arte. Começou sua carreira artística a partir dos 14 anos, com criações em crayon e tinta, de forma bastante determinada em aulas no famoso Museu Dinamarquês (Danish Museum). Desde seus primeiros trabalhos, o artista já rejeitava convenções teóricas da arte contemporânea, como que criando sua própria partitura. Sua outra paixão focava pássaros predadores e tornou-se amestrador treinado de falcões, o que naturalmente estava retratado em sua arte.
Aos 20 anos conheceu sua futura esposa, a pianista  Nina Kavtaradze, que passou a exercer enorme influência sobre suas pinturas, como modelo e como crítica. A rigor, foi ela quem levou Blondal a partir para a pintura a óleo, abrindo uma nova dimensão em sua história como artista do branco-e-preto. Tanto que em 1987 o artista promoveu sua primeira exposição, “com uma coleção de pinturas poderosas”, no dizer de um crítico. O artista se divide em períodos, caracterizados por um interesse figurativo natural, que passa por retratos e nus, frequentemente elaborados em formato feminino e demonizados, até amadurecer a fascinação da multiplicidade de formas e combinações de cores.



  

  

  

  

  

 



Ciranda Sem jeito



Não sei muito bem porque escrevo
talvez
quando a alma vagueia
à procura de letras
a vida truncada
no varal aqui fora
estremece

será sempre?
ou por um átomo de tempo?

(nada sei muito,
tampouco)

escrever frases desconexas
para gerar o absurdo
dos encontros
mais belos

criar o avesso
de uma saia rendada
e girar
girar
numa ciranda sem jeito

(de que me resta o sentido de ser?)


Ana Paula Perissé



Sou qualquer coisa que vive na vertigem de ser, que sonha e que se perde, que se reencontra na pulsão vívida do Outro ou que foge do local onde está para voltar e escapar virada e remexida em minhas entranhas...
Sou apenas uma viajante, aprendiz do tudo e do nada,
Quem sou eu???? Nunca saberei, posto que não sonho com certezas...
Ah! Definições! Ah! Clarice!
Sou casada, tenho um filho muito amado, sou cidadã carioca e luto muito para continuar sendo. No cotidiano, sou publicitária e sigo carreira acadêmica. Já estudei no exterior e hoje faço doutorado na UFRJ.
Meus trabalhos publicados estão concentrados na área científica, porém participei como poeta, da Antologia Dellicatta III, lançada na Bienal do Livro em São Paulo.
Gostaria de, em paralelo ao trabalho acadêmico, continuar meu ofício de poeta e de escrevinhadora (para escritora, estou muito longe..., tanto a aprender!) porque todos os leitores merecem minha honrosa reverência.


Stefan Blöndal

 

  

  

  

  

  

  

  

  
 

 

  


Falésias Vermelhas


são falésias vermelhas
à beira de uma jangada
sem dor
bronzeada de barro e sal
maresia de tantos ventos

são falésias vermelhas
que fui procurar
rubra por desejar
mar que já bate
em ciclos perdidos
de mim

são de falésias vermelhas
o rosto que construo
em sonhos cristalizados
em ébano.

ondas de sedimentos
no escuro.


Ana Paula Perissé


Stefan Blöndal

 

  

  

  

  

 

 

 
Diferença e repetição



até quando repetição
pode ser diferença?
por ritmos, cadências,
percursos ou lembranças
de rastros de ti.

um lamento de papel como se fosse
diferença
repetição de te querer
que me abriga.

até quando o mesmo sonhado
há pouco, alhures
subsiste em nuances salinas
de marés cheias
plenas de ti?

(saudades em pranto calado
a temperar-me a vida)

Resvala em mim
a ilusão de cada único momento
ou gorjeiam marés de pássaros
prateados
tudo de nós
enterrado
nos ares.

Ah! uma ausência de mim
sem rastros.


Ana Paula Perissé


Stefan Blöndal

 

  

  

  

  

 

 



Pequena Oração Pagã


Vem sol
vem lua
a pulsar
no pequeno instante
de 1 vida.

vem luz
vem treva
a dançar
na fogueira ausente
de uma noite sonhada.

vêm vagas
de mar
no único toque
de útero húmus
de 1 só olhar.

(vem,
descem
e suspiram pálpebras)


Ana Paula Perissé


Stefan Blöndal

 

  

  

  

  

  

 


Vento de Voz


vento de voz
de areia
uma imensidão tão séria
fala-me a navegar

que de tão pequena
eu me sou
transmuto em cada sopro
de duna
brincante de vida
a esmo

porque recolho
rastros de mar
ao pôr-do-sol.

vento de voz
é silêncio
que afaga ou machuca.



Ana Paula Perissé

Stefan Blöndal

 

  

  

  

  

  

 


Entropia


têm coisas que não hei de saber
escrever
há muito vontade em mim
todavia;
que dói e lateja
implosão

quietude de nada saber
(resquícios de sentidos
fadind away)
que o oceano
não tem mais vagas
para nós.

faltam ondas
quiçá espumas
falésias secas
graníticas róseas
à solitude
de ciclo.

têm coisas sobre as quais
não sei escrever.

(factualidade entre mundos
em débil caos)


Ana Paula Perissé

Stefan Blöndal

 

  

  

 



Negros Anjos



Há que se ter certo medo de pessoas
ou dos bailados pouco enigmáticos
dos que sonham em branco.

quero perder-me na traição
do amor
ou
na ilusão dos que não sabem
mas pensam viver?

(a intensidade é um rastro para o futuro
sempre com a alma partida)

Anjos negros
estremecem-me
com o fulgor de um desejo
macio
puro de si.

Há que se ter medo
dos que evitam pesadelos
nocturnos

a escuridão do negro
não é tão-somente percurso
para cegos
afortunados.

(nuances de preto a preencher-me
de vida,
às claras)



Ana Paula Perissé