Lucien Lévy-Dhurmer






Lucien Lévy-Dhurmer






se...


se teu coração desenhasse
sonhos
madrugadas proibidas
fossem memórias
quentes
invólucros naturais
de sensações palpáveis
notas que por si só
vibrassem
loucas línguas
salivassem
partículas heterogêneas
desprendessem
transmutassem
e entre si
amalgamassem...

...seria a química perfeita
meu amor!


Lúcia Gönczy

Lucien Lévy-Dhurmer






se te dou o meu silêncio
não é por falta de palavras
mas pelo excesso que elas causam
tentando explicar meu coração


Lúcia Gönczy

Lucien Lévy-Dhurmer






Meu porto e abrigo
Terra firme
Pisar e repisar
Amassar todo barro
Possível
Necessário
Depois
Desfazer o não feito
Deslizar
Puerilmente nos sonhos
Concordar
Confortar
Compreender
Se atirar sem noção
Do abismo
E querer tudo novamente
E refazer o já feito
Sem arrependimentos
Nem tristezas
No coração só uma chaga
Aquela mordaça
Indestrutível
De quando me calo
Para te proteger
Do medo



Lúcia Gönczy

Lucien Lévy-Dhurmer








À flor da pele


Percebo
seu desalento
que aos poucos
sorve o meu ser

E olho
com olhos de lince
o gato
que existe em você

O peixe
deixo pra ceia
e cerceio
a cerca que anseias

Que tens de ser
do meu ser


Lúcia Gönczy

Lucien Lévy-Dhurmer






O SONO DAS ROSAS


a cidade não dorme
no entanto, é preciso ninar o Poema

as pedras transpiram liberdade
os sonhos vagam na noite
poetas espalham-se feito
pólen no vento

e as luzes, nem sempre da ribalta,
madrugada afora chovem cascalhos
cheios de silêncios

o Poeta finge adormecer
cerrando as janelas de sua alma
que por dentro da retina faíscam vida
também silenciosas
no coração pulsante da Avenida
para que, enfim,
descansem as Rosas


Lúcia Gönczy

Lucien Lévy-Dhurmer







Madrugada


Nem sempre tarda
o bem que nos importa

A porta, é brecha
Fresta aberta
por onde navegam
sonhos

Além disso, há o inabitável
de cada um
 [sozinho]

A chave gira a mão
Que aperta a maçaneta

Abro, entro, posto-me
Qualquer canto agora
é só um canto
enquanto à espera

Demoras...
carrego meu olhar no seu
e longe, detenho-me no fundo

 [idealizo]



Lúcia Gönczy

Lucien Lévy-Dhurmer






Remate


sinto-me tão plena
que me espanto tamanha euforia
de estar só em só alegria
a observar-te no meu encalço

o que me faz extremada de gozos
ver-te verter que te apareças
escrita, falada ou muda
a qualquer hora do tempo

e na paisagem interior,
impossível transgressora
amá-lo mais do que possa
até virar-te pelo avesso

entretanto foi uma fábula
tudo que vivemos
anéis sem aro sem vidro sem brilho
deixemos assim simplesmente

ainda que estamos íntegros
nem cortes nem cicatrizes
façamos como nos filmes:
final feliz, The End.


Lúcia Gönczy

Lucien Lévy-Dhurmer





Trajetória


não quero a recompensa
dos reconhecimentos
 [póstumos]
quero o aqui e agora
o instante, o ato
as coisas que fragmentam
como a fragilidade das borboletas
e as pontes que reconstruo
com a força de um leão
[a cada momento]
sem olhar para trás


Lúcia Gönczy

Lucien Lévy-Dhurmer







eu sei


eu sei,
você vai fugir, vai se esquivar
por ter medo de falar
coisas que eu não quero ouvir.
eu sei,
você vai silenciar
sem saber que só aumenta
minha angustia de entender
o que se passa com você.
também sei,
que o tempo vai passar
e selar nossas tristezas...
pondo as cartas sobre a mesa
vai fechando cicatrizes
mas a fenda que há por dentro
desta ausência tão sentida
ficará ampla , irrestrita
no meu peito para sempre
feito chaga que não cura
sangrando sempre em dias cinzas.


Lúcia Gönczy

Lucien Lévy-Dhurmer








valsa


eu não vou mandar mais florzinhas pra você
nem beijinhos ou bichinhos animados; tampouco
aquele bom dia desajeitado, como quem espera ser
chamado atrás da porta, mesmo estando na última fila;
não, eu não vou mais confessar os meus segredos, até porque,
você já os conhece de cor e salteado; mas eu preciso muito
te dizer umas últimas palavras; normal...a gente sempre
diz fim sem saber o "quanto falta"... e sempre falta!
eu vou te dizer a única que não disse antes por achar
nosso amor eterno; "na verdade", acreditei no que acreditávamos;
e "a verdade" é que eu continuo naquele patamar meio desconsolado
cavando degraus na minha sepultura, pra meio louca te tirar do pedestal.
*ensandeci. nada de andor ou carruagem
afinal, dancei bonito e você nem era o príncipe encantado.


Lúcia Gönczy

Lucien Lévy-Dhurmer


Lucien Lévy-Dhurmer (30 de setembro de 1865 - 24 de setembro de 1953) foi um pintor francês ligado ao simbolismo/Art Nouveau.
Lucien Lévy nasceu em Argel, em uma família judaica. Em 1879 começou a estudar desenho e escultura em Paris e, em 1887, começou a fazer sua vida no sul da França, supervisionando decoração cerâmica. Seu gosto na área foi influenciado pela Arte Islâmica. Em 1895, partiu para Paris para se dedicar a pintura, visitando também a Itália , onde foi influenciado pela arte da Renascença. Em 1896, exibiu suas primeiras pinturas em pastel, sob o nome de Lucien Lévy-Dhurmer, após adicionar as duas últimas sílabas do nome de solteira de sua mãe (Goldhurmer), provavelmente para se diferenciar das outras pessoas de mesmo sobrenome.
Suas pinturas logo se tornaram populares entre o público e entre outros artistas também. Foi muito elogiado por sua atenção ao detalhe acadêmico com que capturou dados perdidos de uma pré-rafaelita névoa de melancolia, contrastando com uma brilhante coloração impressionista. Seu retrato do escritor Georges Rodenbach é talvez o exemplo mais marcante desta sinergia estranha e extraordinária. Após 1901, Lévy-Dhurmer afastou expressamente o conteúdo simbolista, incorporando mais paisagens em seu trabalho. Ele continuou a se inspirar na música, tentando capturar obras de grandes compositores, como Beethoven, em forma de pintura. Morreu em Le Vésinet, em 1953.

http://en.wikipedia.org/wiki/Lucien_L%C3%A9vy-Dhurmer








SEM TÍTULO


não tente adivinhar meus pensamentos
nem faça uma leitura do momento;
to fechada pra balanço.
sinceramente eu não penso,
não sinto, não tento.
e, só pra você, no pé da orelha, conto
um segredinho:
tenho objetivos maiores, meu bem;
não sou mulher de metades,
nem gasto vela com defunto morto.

Lúcia Gönczy