Édouard Manet
“Folha de álbum "
De repente uns desejos fúteis
tivestes, de escutar um pouco
as várias músicas inúteis
das minhas flautas de som rouco.
Esta canção que eu comecei
ante a paisagem, frio e grave
ficou melhor quando a cessei
para olhar vosso olhar suave.
Sim, este vão sopro que expulso
até meu último limite
(meus dedos, hirtos movo a pulso)
falha se imita, embora imite,
o vosso claro, natural,
riso infantil e matinal.
De repente uns desejos fúteis
tivestes, de escutar um pouco
as várias músicas inúteis
das minhas flautas de som rouco.
Esta canção que eu comecei
ante a paisagem, frio e grave
ficou melhor quando a cessei
para olhar vosso olhar suave.
Sim, este vão sopro que expulso
até meu último limite
(meus dedos, hirtos movo a pulso)
falha se imita, embora imite,
o vosso claro, natural,
riso infantil e matinal.
Stéphane Mallarmé
(Trad. de Luís Martins)
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Édouard Manet
Homenagem (Hommage)
Silêncio de um tecido em seda cinerário
Mais que uma só dobra pode desdobrar
Sobre o móvel que a queda do grande pilar
Derroca com a memória em estado precário.
O nosso antigo embate triunfal do glossário
Em cifra, hieróglifos de que o milhar
Se ergue a ressoar com a asa um fremir familiar!
Guardem-no, para mim, melhor, em um armário.
Do ridente fragor original odiado
Por entre as claridades mestras viu-se alçado
Até um adro nascido para o simulacro,
Trompas fortes de baço ouro sobre velinos,
Richard Wagner, o deus, a irradiar ritual sacro
Que a tinta mal cala em soluços sibilinos.
Stéphane Mallarmé
Mais que uma só dobra pode desdobrar
Sobre o móvel que a queda do grande pilar
Derroca com a memória em estado precário.
O nosso antigo embate triunfal do glossário
Em cifra, hieróglifos de que o milhar
Se ergue a ressoar com a asa um fremir familiar!
Guardem-no, para mim, melhor, em um armário.
Do ridente fragor original odiado
Por entre as claridades mestras viu-se alçado
Até um adro nascido para o simulacro,
Trompas fortes de baço ouro sobre velinos,
Richard Wagner, o deus, a irradiar ritual sacro
Que a tinta mal cala em soluços sibilinos.
Stéphane Mallarmé
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Édouard Manet
A Vendedora de Roupas
O olho vivo com que vês
Até o seu conteúdo
Me aparta de minhas vestes
E como um deus vou desnudo
Stéphane Mallarmé
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Édouard Manet
BRINDE
Nada, esta espuma, virgem verso
A não designar mais que a copa;
Ao longe se afoga uma tropa
De sereias vária ao inverso.
Navegamos, ó meus fraternos
Amigos, eu já sobre a popa
Vós a proa em pompa que topa
A onda de raios e de invernos;
Uma embriaguez me faz arauto,
Sem medo ao jogo do mar alto,
Para erguer, de pé, este brinde
Solitude, recife, estrela
A não importa o que há no fim de
um branco afã de nossa vela
Nada, esta espuma, virgem verso
A não designar mais que a copa;
Ao longe se afoga uma tropa
De sereias vária ao inverso.
Navegamos, ó meus fraternos
Amigos, eu já sobre a popa
Vós a proa em pompa que topa
A onda de raios e de invernos;
Uma embriaguez me faz arauto,
Sem medo ao jogo do mar alto,
Para erguer, de pé, este brinde
Solitude, recife, estrela
A não importa o que há no fim de
um branco afã de nossa vela
Stéphane Mallarmé
Tradução: Augusto de Campos
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Édouard Manet
POESIA
Toda alma que a gente traça
lenta, no ar, em resumidos
vários anéis de fumaça
noutros anéis abolidos
atesta qualquer cigarro
por pouco que separado
fique da cinza e do sarro
seu claro beijo inflamado.
Assim o coro dos poemas
dos lábios voa sutil.
A realidade, não temas,
excluí-la, porque é vil.
A exatidão torna impura
tua vaga literatura.
Mallarmé
(tradução de Luis Martins)
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Édouard Manet
Tristeza de verão
O sol, sobre a areia, é uma guerreira adormecida
No ouro de seus cabelos aquece um banho langoroso
E, consumindo o incenso em sua face inimiga,
Mistura às lágrimas um líquido amoroso.
Desta branca fosforescência a imóvel calma
Te faz dizer, entristecida, ó meus poucos beijos
“Nós não seremos jamais uma múmia sem alma
Sob o antigo deserto e as palmeiras sem seixo”
Mas a tua cabeleira é um riacho de águas intrépidas
Onde se afoga sem frio a alma que nos obseda
E descobre o Nada que não conhece mais.
Vou provar as lágrimas de suas pálpebras
Para ver se elas concedem ao coração sem paz
A insensibilidade do azul e das pedras.
O sol, sobre a areia, é uma guerreira adormecida
No ouro de seus cabelos aquece um banho langoroso
E, consumindo o incenso em sua face inimiga,
Mistura às lágrimas um líquido amoroso.
Desta branca fosforescência a imóvel calma
Te faz dizer, entristecida, ó meus poucos beijos
“Nós não seremos jamais uma múmia sem alma
Sob o antigo deserto e as palmeiras sem seixo”
Mas a tua cabeleira é um riacho de águas intrépidas
Onde se afoga sem frio a alma que nos obseda
E descobre o Nada que não conhece mais.
Vou provar as lágrimas de suas pálpebras
Para ver se elas concedem ao coração sem paz
A insensibilidade do azul e das pedras.
Stéphane Mallarmé
(Trad. André Dick)
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Édouard Manet
“SUSPIRO
Minha alma demanda, ó irmã tão serena,
Tua fronte onde sonha um outono sardento,
E o errante céu do teu olhar angélico,
Tal como a suspirar, num jardim melancólico,
Fiel, um jacto branco sobe para o Azul!
— Para o Azul de Outubro pálido, terno e puro,
Nos lagos a mirar o langor infinito:
E deixa à flor da água onde a fulva agonia
Das folhas voga ao vento abrindo um frio sulco
O sol quente a arrastar seu longo raio ruivo.”
Minha alma demanda, ó irmã tão serena,
Tua fronte onde sonha um outono sardento,
E o errante céu do teu olhar angélico,
Tal como a suspirar, num jardim melancólico,
Fiel, um jacto branco sobe para o Azul!
— Para o Azul de Outubro pálido, terno e puro,
Nos lagos a mirar o langor infinito:
E deixa à flor da água onde a fulva agonia
Das folhas voga ao vento abrindo um frio sulco
O sol quente a arrastar seu longo raio ruivo.”
Stéphane Mallarmé
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Édouard Manet
Angústia
Não vim domar teu corpo esta noite, ó cadela
Que encerras os pecados de um povo, ou cavar
Em teus cabelos torpes a triste procela
No incurável fastio em meu beijo a vazar:
Busco em teu leito o sono atroz sem devaneios
Pairando sob ignotas telas do remorso,
E que possas gozar após negros enleios,
Tu que acima do nada sabes mais que os mortos:
Pois o Vício, a roer minha nata nobreza,
Tal como a ti marcou-me de esterilidade,
Mas enquanto teu seio de pedra é cidade.
De um coração que crime algum fere com presas,
Pálido, fujo, nulo, envolto em meu sudário,
Com medo de morrer pois durmo solitário.
Não vim domar teu corpo esta noite, ó cadela
Que encerras os pecados de um povo, ou cavar
Em teus cabelos torpes a triste procela
No incurável fastio em meu beijo a vazar:
Busco em teu leito o sono atroz sem devaneios
Pairando sob ignotas telas do remorso,
E que possas gozar após negros enleios,
Tu que acima do nada sabes mais que os mortos:
Pois o Vício, a roer minha nata nobreza,
Tal como a ti marcou-me de esterilidade,
Mas enquanto teu seio de pedra é cidade.
De um coração que crime algum fere com presas,
Pálido, fujo, nulo, envolto em meu sudário,
Com medo de morrer pois durmo solitário.
Stéphane Mallarmé
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Édouard Manet
morte – sussurra de leve
– não sou ninguém –
nem sei quem sou
(pois os mortos não
sabem que estão
mortos –, nem mesmo que morrem
– para crianças
pelo menos
– ou
heróis – mortes
repentinas)
pois de outro modo
minha beleza é
feita de últimos
momentos –
lucidez, beleza
rosto – do que teria sido
eu, sem mim mesmo
Stéphane Mallarmé
– não sou ninguém –
nem sei quem sou
(pois os mortos não
sabem que estão
mortos –, nem mesmo que morrem
– para crianças
pelo menos
– ou
heróis – mortes
repentinas)
pois de outro modo
minha beleza é
feita de últimos
momentos –
lucidez, beleza
rosto – do que teria sido
eu, sem mim mesmo
Stéphane Mallarmé
(Trad. André Dick)
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Édouard Manet
BRISA MARINHA
A carne é triste, sim, e eu li todos os livros.
Fugir! Fugir! Sinto que os pássaros são livres,
Ébrios de se entregar à espuma e aos céus
[imensos.
Nada, nem os jardins dentro do olhar suspensos,
Impede o coração de submergir no mar
Ó noites! nem a luz deserta a iluminar
Este papel vazio com seu branco anseio,
Nem a jovem mulher que preme o filho ao seio.
Eu partirei! Vapor a balouçar nas vagas,
Ergue a âncora em prol das mais estranhas
[plagas!
Um Tédio, desolado por cruéis silêncios,
Ainda crê no derradeiro adeus dos lenços!
E é possível que os mastros, entre ondas más,
Rompam-se ao vento sobre os náufragos, sem
[ mas-
Tros, sem mastros, nem ilhas férteis a vogar...
Mas, ó meu peito, ouve a canção que vem do
[ mar!
A carne é triste, sim, e eu li todos os livros.
Fugir! Fugir! Sinto que os pássaros são livres,
Ébrios de se entregar à espuma e aos céus
[imensos.
Nada, nem os jardins dentro do olhar suspensos,
Impede o coração de submergir no mar
Ó noites! nem a luz deserta a iluminar
Este papel vazio com seu branco anseio,
Nem a jovem mulher que preme o filho ao seio.
Eu partirei! Vapor a balouçar nas vagas,
Ergue a âncora em prol das mais estranhas
[plagas!
Um Tédio, desolado por cruéis silêncios,
Ainda crê no derradeiro adeus dos lenços!
E é possível que os mastros, entre ondas más,
Rompam-se ao vento sobre os náufragos, sem
[ mas-
Tros, sem mastros, nem ilhas férteis a vogar...
Mas, ó meu peito, ouve a canção que vem do
[ mar!
Stéphane Mallarmé
Tradução: Augusto de Campos
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Édouard Manet
Édouard Manet
Édouard Manet (Paris, 23 de janeiro de 1832, Paris — 30 de abril de 1883, Paris) foi um pintor e artista gráfico francês e uma das figuras mais importantes da arte do século XIX.
Os gostos de Manet não vão para os tons fortes utilizados na nova estética impressionista. Prefere os jogos de luz e de sombra, restituindo ao nu a sua crueza e a sua verdade, muito diferente dos nus adocicados da época. O trabalhado das texturas é apenas sugerido, as formas, simplificadas. Os temas deixaram de ser impessoais ou alegóricos, passando a traduzir a vida da época, e, em certos quadros, seguiam a estética naturalista de Zola e Maupassant.
Manet era criticado não apenas pelos temas, mas também por sua técnica, que escapava às convenções acadêmicas. Freqüentemente inspirado pelos mestres clássicos e em particular pelos espanhóis do Século de Ouro, Manet influenciou, entretanto, certos precursores do impressionismo, em virtude da pureza de sua abordagem. A esta sua liberação das associações literárias tradicionais, cômicas ou moralistas, com a pintura, deve o fato de ser considerado um dos fundadores da arte moderna. Suas principais obras foram: Almoço na relva ou Almoço no Campo, Olímpia, A sacada, O tocador de pífaro e A execução de Maximiliano.
Os gostos de Manet não vão para os tons fortes utilizados na nova estética impressionista. Prefere os jogos de luz e de sombra, restituindo ao nu a sua crueza e a sua verdade, muito diferente dos nus adocicados da época. O trabalhado das texturas é apenas sugerido, as formas, simplificadas. Os temas deixaram de ser impessoais ou alegóricos, passando a traduzir a vida da época, e, em certos quadros, seguiam a estética naturalista de Zola e Maupassant.
Manet era criticado não apenas pelos temas, mas também por sua técnica, que escapava às convenções acadêmicas. Freqüentemente inspirado pelos mestres clássicos e em particular pelos espanhóis do Século de Ouro, Manet influenciou, entretanto, certos precursores do impressionismo, em virtude da pureza de sua abordagem. A esta sua liberação das associações literárias tradicionais, cômicas ou moralistas, com a pintura, deve o fato de ser considerado um dos fundadores da arte moderna. Suas principais obras foram: Almoço na relva ou Almoço no Campo, Olímpia, A sacada, O tocador de pífaro e A execução de Maximiliano.
Édouard Manet
Retrato de Zacharie Astruc
Retrato de Stéphane Mallarmé
Nada, esta espuma, virgem verso
A não designar mais que a copa;
Ao longe, se afoga uma tropa
De muitas sereias ao inverso.
Navegamos, amigos fraternos
Comigo desde já sobre a popa.
Vocês avançam, sobre a proa
A onda de raios e invernos;
Uma embriaguez me livra
Sem temer o mar mais acima
Erguendo de pé este brinde
Solidão, recife, estrela
Não importa o que vibre
O branco da vela em cena.
A não designar mais que a copa;
Ao longe, se afoga uma tropa
De muitas sereias ao inverso.
Navegamos, amigos fraternos
Comigo desde já sobre a popa.
Vocês avançam, sobre a proa
A onda de raios e invernos;
Uma embriaguez me livra
Sem temer o mar mais acima
Erguendo de pé este brinde
Solidão, recife, estrela
Não importa o que vibre
O branco da vela em cena.
Stéphane Mallarmé
(Trad. André Dick)
Stéphane Mallarmé
Stéphane Mallarmé, cujo verdadeiro nome era Étienne Mallarmé, (Paris, 18 de Março de 1842 - Valvins, comuna de Vulaines-sur-Seine, Seine-et-Marne, 9 de Setembro de 1898) foi um poeta e crítico literário francês.
Autor de uma obra poética ambiciosa e difícil, Mallarmé promoveu uma renovação da poesia na segunda metade do século XIX, e sua influência ainda é sentida nos poetas contemporâneos comoYves Bonnefoy.
O INÍCIO
Mallarmé começou a publicar seus poemas na revista O Parnaso Contemporâneo (Le Parnasse contemporain), editada na capital francesa na década de 1860, quando ele se mudou para o interior da França com o objetivo de ensinar inglês nas escolas da região. Dos 21 aos 28 anos o poeta viveu com a família em três cidades: Tournon, Besançon (terra de Victor Hugo) e Avignon.
Anos depois, Mallarmé conheceria os poetas Rimbaud e Paul Verlaine.
Autor de uma obra poética ambiciosa e difícil, Mallarmé promoveu uma renovação da poesia na segunda metade do século XIX, e sua influência ainda é sentida nos poetas contemporâneos comoYves Bonnefoy.
O INÍCIO
Mallarmé começou a publicar seus poemas na revista O Parnaso Contemporâneo (Le Parnasse contemporain), editada na capital francesa na década de 1860, quando ele se mudou para o interior da França com o objetivo de ensinar inglês nas escolas da região. Dos 21 aos 28 anos o poeta viveu com a família em três cidades: Tournon, Besançon (terra de Victor Hugo) e Avignon.
Anos depois, Mallarmé conheceria os poetas Rimbaud e Paul Verlaine.
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