Saturno Butto







Florfera

                                Tris/te/za - que - foi
                          A - mor/te - da – be/la
                               Fe/ra – Flor/be/la

             Em homenagem a poetisa Florbela Espanca
Lúcio Alves de Barros

Saturno Butto










Primavera pessimista

Minha “prima-vera” é um porre
Primos são chatos e chatas,
Olhe, observe e “Verão” que parentes não “frios”
Lembram o “inverno”, mas são ”outono”,
Quando não ganham ficam “Outontos”
E nas festas de fim de ano aparecem como o sol de “Verão”
e a prima vera ainda finge que o Natal vai chegar.

Lúcio Alves de Barros


Saturno Butto








DA AMIZADE

Amigos são companheiros e não cúmplices
Andam de mãos dadas e não esfaqueiam
Neles podemos entender nossa ternura, bondade e mansidão
Entender o que tem de pior e melhor em nós e no mundo

Amigos são presentes,
Se Deus existe, Ele os fez
Amigos são eternos amantes da vida
Amam incondicionalmente e repelem tudo aquilo que pode influenciar a transcendência da amizade
Amigos entendem e compreendem o que somente Deus sabe.


Lúcio Alves de Barros

Saturno Butto






SINTO FALTA


Falta de sua presença

Falta de seu cheiro, de seu jeito

Falta de seu abraço, de seu regaço

Falta de seus olhos, e de seus lábios

Falta de seus cabelos e de seu corpo

Falta de seu sorriso e de sua fala

Falta de seu sono, e de seus olhar

Falta de seu andar e o meu observar

Falta de amar e de ser amado

Sinto falta de ti e de mim.


Lúcio Alves de Barros.



Saturno Butto








Menos valia


A vida por vezes repousa em mim como lança
Tudo nebuloso e sujo
Por pouco sou empurrado para a cova de suínos
Corro atrás de equinos
Caio em fuga como os felinos
Bajulo como todos os caninos

Triste é o momento da percepção da fragilidade
Neste momento vai longe o que chamam de felicidade
A garganta se fecha em gelo
Os ouvidos se afinam
A boca fica amarga
E o cheiro insuportável de gente enoja

São momentos de percepção
Acontecimentos que amarram em nó o coração
É a vez da alma ir embora
A beleza da vida fica sem cor
A certeza da inexistência do amor toma força
E a vida revela faces ocultas que desconheço

Nestas horas não vejo como devo
Assisto a vida tal como ela é
Cheia de relações contraditórias e obscuras
Fumaça ao vento, poeira em pó
Uma dor de cabeça cor de laranja
E um sentimento de que nada vale à pena.


Lúcio Alves de Barros


Saturno Butto








Primavera em paradoxo


Não desejo mais ver as folhas nascerem como outrora
A primavera já não é como antes
Os bípedes humanos estão diferentes
Entraram numa zona cinzenta light
Acabaram com a intimidade
Sonham com a celebridade
Regozijam com a mediocridade

Era bonito ver as folhas nascendo a brincar com o vento
A primavera vem com novos bípedes de dois pés
Eles destroem as matas
Explodem a terra
Matam os animais
Arregaçam os rios
Arrancam os lírios

A primavera não é para todos
Os bípedes semi-humanos estão tontos
Discriminam o outro
Acabam com as subjetividades
Engendram o ódio
Não respeitam a autoridade
São inconsequentes, perversos, sádicos, consumistas.
Pós-modernos, permissivos e hedonistas.

Saudades da primavera, se ela vir novamente....
Desejo-lhe muito cuidado.

Lúcio Alves de Barros


Saturno Butto








Jardins suspensos

Jardins suspensos na noite calada que a lua teima a queimar
Uma flor ferida e sangrando está no meu peito
Quase não consigo respirar nesse ar seco
As costelas andam batendo uma na outra
E uma pequena taquicardia arrepia meu corpo

E essa lua cheia dela mesma
E ela cheia se si mesma
E eu cansado de mim mesmo

Minha saudade é uma lágrima que cai em fogo
Olhos de limão verde a arder na inquietude
Corpo cansado e amassado
Ferido e quebrantado no fim do dia que não desejo ver

E ela neste sorriso que rasga minha alma
Iluminando a rua, o corredor, a sala
Cheia dela e vazia de mim


Lúcio Alves de Barros


Saturno Butto









Ciúmes

Ciúmes são cravos
Cravos que penetram a pele,
rasgam os poros
e expõem as raízes do coração.

Coração que ama e se esforça para deixar-se amar.
Amar e não mal amar
Amar porque deseja,
Implora,
Venera,
Adora e sucumbe a dor de um cravo.

Cravos recheados de medo e angústia
Retiram as forças, o ar, a vida e a segurança...
deixando marcas de um amor sublime e divino que
permanece e marca a epiderme como se dela fizesse parte.

Lúcio Alves de Barros


Saturno Butto






 No ar (amar)

                                          Pedra no ar
                                        Na face do amor
                                      a esperança se esvai.

Lúcio Alves de Barros



Saturno Butto









Vida que cai

                        Can - sei - da - vi - da
                co - mo - a - fo - lha - que - cai
                       de - pois - da - chu – va

Lúcio Alves de Barros


Saturno Butto








Saulágrima

A - sau-da-de
é - a - mi-nha - lá-gri-ma
ca-in-do... ca-iu...

Lúcio Alves de Barros

Saturno Butto






Primavera

        A / pri - ma - ve - ra
    lá - gri - ma / de / san - gue
    no / fri - o  / chão / da / vi – da


Lúcio Alves de Barros




Saturno Butto

Suas pinturas contém diversas referências ao mundo da medicina: instrumental médico como seringas, fórceps e agulhas não são empregados como adorno do corpo, mas também sugerem uma conexão mais profunda com a esfera do sagrado. O artista se revela simplesmente fascinado pelo desconforto provocado pelos instrumentos médicos, ao mesmo tempo atraído e repelido. Desde os anos noventa Butto começou a incluir objetos como bombas de enema, duchas vaginais, instrumentos dentários e anéis metálicos de vários tipos como componentes ornamentais. Misturar metal e carne causa um prazer súbito. Seu trabalho está ligado a uma esfera de misticismo, a um imaginário relacionado ao sofrimento, frequentemente relacionado a martírio e crucifixão, mostrando um interesse no corpo ferido, na dor da carne. Naturalmente, o sexo também ocupa importante posição em seus trabalhos, o que pode ser claramente estabelecido pelas inúmeras referências a símbolos do sado/masoquismo. O artista se mostra aberto a novas experiências, inclusive na forma gráfica de sua expressão.



 Poesia
Lúcio Alves de Barros