Christophe Vacher
Anjos ou Deuses
Anjos ou deuses, sempre nós tivemos,
A visão perturbada de que acima
De nos e compelindo-nos
Agem outras presenças.
Como acima dos gados que há nos campos
O nosso esforço, que eles não compreendem,
Os coage e obriga
E eles não nos percebem,
Nossa vontade e o nosso pensamento
São as mãos pelas quais outros nos guiam
Para onde eles querem E nós não desejamos.
Ricardo Reis
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Aos Deuses
Aos deuses peço só que me concedam
O nada lhes pedir. A dita é um jugo
E o ser feliz oprime Porque é um certo estado.
Não quieto nem inquieto meu ser calmo
Quero erguer alto acima de onde os homens
Têm prazer ou dores.
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Acima da verdade
Acima da verdade estão os deuses.
A nossa ciência é uma falhada cópia
Da certeza com que eles
Sabem que há o Universo.
Tudo é tudo, e mais alto estão os deuses,
Não pertence à ciência conhecê-los,
Mas adorar devemos
Seus vultos como às flores,
Porque visíveis à nossa alta vista,
São tão reais como reais as flores
E no seu calmo Olimpo São outra Natureza.
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Coroai-me
Coroai-me de rosas,
Coroai-me em verdade,
De rosas — Rosas que se apagam
Em fronte a apagar-se Tão cedo!
Coroai-me de rosas
E de folhas breves.
E basta.
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Não Sei
Não sei de quem recordo meu passado
Que outrem fui quando o fui, nem me conheço
Como sentindo com minha alma aquela
Alma que a sentir lembro.
De dia a outro nos desamparamos. Nada de verdadeiro a nós nos une
Somos quem somos, e quem fomos foi
Coisa vista por dentro.
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Tão Cedo
Tão cedo tudo quanto passa!
Morre tão jovem ante os deuses quanto
Morre! Tudo é tão pouco!
Nada se sabe, tudo se imagina.
Circunda-te de rosas, ama, bebe
E cala. O mais é nada.
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Sábio
Sábio é o que se contenta com o espetáculo do mundo,
E ao beber nem recorda
Que já bebeu na vida,
Para quem tudo é novo
E imarcescível sempre.
Coroem-no pâmpanos, ou heras, ou rosas volúteis,
Ele sabe que a vida
Passa por ele e tanto
Corta à flor como a ele
De Átropos a tesoura.
Mas ele sabe fazer que a cor do vinho esconda isto,
Que o seu sabor orgíaco
Apague o gosto às horas,
Como a uma voz chorando
O passar das bacantes.
E ele espera, contente quase e bebedor tranquilo,
E apenas desejando
Num desejo mal tido
Que a abominável onda
O não molhe tão cedo.
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Segue o teu destino
Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.
A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.
Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.
Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.
Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.
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Sim
Sim, sei bem
Que nunca serei alguém.
Sei de sobra
Que nunca terei uma obra.
Sei, enfim,
Que nunca saberei de mim.
Sim, mas agora,
Enquanto dura esta hora,
Este luar, estes ramos,
Esta paz em que estamos,
Deixem-me crer
O que nunca poderei ser.
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Quanta Tristeza
Quanta tristeza e amargura afoga
Em confusão a 'streita vida!
Quanto Infortúnio mesquinho
Nos oprime supremo!
Feliz ou o bruto que nos verdes campos
Pasce, para si mesmo anônimo, e entra
Na morte como em casa;
Ou o sábio que, perdido
Na ciência, a fútil vida austera eleva
Além da nossa, como o fumo que ergue
Braços que se desfazem
A um céu inexistente.
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Prefiro Rosas
Prefiro rosas, meu amor, à pátria,
E antes magnólias amo
Que a glória e a virtude.
Logo que a vida me não canse, deixo
Que a vida por mim passe
Logo que eu fique o mesmo.
Que importa àquele a quem já nada importa
Que um perca e outro vença,
Se a aurora raia sempre,
Se cada ano com a primavera
As folhas aparecem
E com o outono cessam?
E o resto, as outras coisas que os humanos
Acrescentam à vida,
Que me aumentam na alma?
Nada, salvo o desejo de indiferença
E a confiança mole
Na hora fugitiva.
Ricardo Reis
Christophe Vacher
Christophe Vacher é um artista francês que também produz animação para os Estúdios Disney, Dreamworks, Universal Studios e a indústria de animação em geral desde 1989. Baseado no escritório de Paris, contribuiu em filmes como "The Hunchback of Notre Dame", "Runaway Brain" e "A Goofy Movie".
Mudando para a Califórnia em 1996, continuou seus trabalhos na Disney com "Dinosaur", "Hercules," "Tarzan", o final de "Fantasia 2000" e "Treasure Planet". Trabalhou também em "Shark Tale", da Dreamworks. De lá para cá vem marcando presença em premiações. Atualmente, trabalha também para a Hasbro Studios.
Em paralelo, tem divulgado suas próprias pinturas em galerias de arte, em uma carreira internacional. E divide seu tempo entre seus quadros e aulas de Artes Marciais, que cultiva desde os 13 anos. Sobre seu trabalho em pintura, declara que “é difícil para mim discutir meu próprio trabalho, que é simplesmente parte de mim. Meu trabalho é inspirado na música, em viagens e experiências pessoais.”
Cada pintura nos transporta a um mundo diferente, como a ilustração para um livro ou a simples expressão de sensações. Algumas obras são mais abstratas, edxpressando reflexões pessoais. Em termos de técnica, Vacher geralmente trabalha em tela, depois de um esboço em papel, para acabamento a óleo ou acrílico. Seu estilo pessoal segue influências de antigas escolas como Hudson River School, os românticos e os simbolistas europeus, além de mestres como Sandorfi, Beksinski, Ugarte e os visionários franceses.
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