Eugenijus Konovalovas

Eugenijus Konovalovas







Por um amor mais insincero


sou-me
toda
esta tarde
por entre véus e velas
aquela que te acende
no mais sublime da alma
a tentação de um corpo
limítrofe

deixa-me ser
tua
com a nudez mais insincera
possível
porque vinda de nós
é muito mais alma
do que tal torpeza
de mundana moral

deixa-me
ser tua
por inteiro
e só.

insincera-mos
insensados
demais

(diálogo entre almas)



Ana Paula Perissé


Eugenijus Konovalovas






Espraiar-se


O vento quando te sopra
leva-me ,
sem intenção,
suavemente
ao cume húmido
de 1 montanha vulcânica.

O espraiamento profuso
de nós
é  abertura de horizontes
em terrenos marginais

(tentei entender o inatingível
e me pus em busca
por palavras vorazes)


Ana Paula Perissé

Eugenijus Konovalovas






Literatura Corporal


conte-me uma estória
com o toque de tuas
mãos
em meu corpo

luz em fenda
inefável

nas extremidades de teu ser
há contos
e vozes antigas

chegue-me perto
e me fale
com teus toques
de teu ensaio

de palavras ou de gestos
há um calor
que se aproxima

som em fenda
inaudível
(aos outros)

Conte-me de ti
no rabisco de minhas marcas

porque as tuas,
são nossa estória
perto da arte
em estado brutal
da alegria.



Ana Paula Perissé

Eugenijus Konovalovas






espera


e eu me vou
em vagas de vida
por aí
paradeiro em suspenso
sem tua fronte
a me dar um pouco
de luz

vagueio em ritmos
náufragos
ora vens
ora vou
sem teto
sequer uma ilha
no céu em nuances
floresta em névoa

viva

e eu me estremeço
de medo
ou de não saber
até quando
vem maré assim
ou mais calma

e eu me perco
em cada instante
pulso sem pulso
batidas a guiar-me
sombras
de intenso querer-nos

loucos.



 Ana Paula Perissé

Eugenijus Konovalovas






Bailado de pupilas


e a cada vez que fecho
meus olhos
tua presença baila
e estremece
aquilo que ainda
resta-me
de mim
sem tê-lo
agora
ao meu lado

e a cada vez
que cerras teus olhos
eu morro e renasço
dentro de ti

juntos, afinal
e tão novos
para esta nossa vida
que segue
existindo
sempre.



Ana Paula Perissé

Eugenijus Konovalovas







Nonsense



e a volta vem sem face
nua e pálida
as ruas são disformes
ou todas iguais
pavimentos cruéis
sem pulso
resquício de origem

à semelhança do éter divino
afasto-me
quero crer
e emudeço

quero ser
todavia perdida
acho meu caminho
na vida nonsense
navalha afiada
garganta desfolhada
sem voz
sem vento
sem brisa

(meus olhos vidrados na mudança de lua)



Ana Paula Perissé

Eugenijus Konovalovas






Sem vestido


sem vestido
roubado de mim

quedo-me nua
ainda mais
intensa
toda tua
entregue ou
rendidos
à nossa lua
perpétua
cálida
traçados d´1 só
mui´ardorosa
rua

(travessas possuídas
de nós
vestido de mão única)



Ana Paula Perissé

Eugenijus Konovalovas






Dance-me


dance-me até o final do mundo
pois desconheço-me tanto de mim
que entrego-me
inteira
ao aroma findo
de verbena
em ritmo fatal

não mais quero
viver intensamente
e aos poucos
bailado sem vozes
ao som de peles
raspando
em cútis vis

(aos escombros
ah! sobram muitos de nós!)



Ana Paula Perissé

Eugenijus Konovalovas






Alhures


A voz amarga dos violinos
embala o segredo
que te inquieta a vigília
e mesmo a paixão
mais explícita
não te alcançará
uma alma recolhida
nem mesmo os beijos
em lábios fundidos
anos de amor e volúpias de alcova

aos que desejam a chave de meu silêncio
loucos se fazem
pois meu coração não vibra
em compassos alhures
em tuas mãos



Ana Paula Perissé

Eugenijus Konovalovas


Eugenijus Konovalovas



Evgenijus Konovalovas nasceu em 1947 em Omsk, na Rússia e, desde 1949 vive em Vilnius, Lituânia. De 1963 a 1966 frequentou a Escola de Belas Artes, em Vilnius e, entre 1969 e 1972, estudou filologia na Universidade Estadual de Vilnius, onde assumiu definitivamente a condição de artista. Após sete anos de trabalho para o Museu Nacional, estabeleceu-se como um artista independente. Konovalovas se tornou um mestre na aplicação da técnica de pintura de vidros, muitas vezes inspirando-se em temas religiosos e clássicos, seguindo um estilo pós-modernista.


http://gallery-horizon.com/artiesten/konovalovas_page1.html





Ciranda sem jeito



não sei muito bem porque escrevo
talvez
quando a alma vagueia
à procura de letras
a vida truncada
no varal aqui fora
estremece

será sempre?
ou por um átomo de tempo?

(nada sei muito,
tampouco)

escrever frases desconexas
para gerar o absurdo
dos encontros
mais belos

criar o avesso
de uma saia rendada
e girar
girar
numa ciranda sem jeito

(de que me resta o sentido de ser?)




Ana Paula Perissé


Sou qualquer coisa que vive na vertigem de ser ou de não-ser, que sonha e que se perde, que se reencontra na pulsão vívida do Outro, que foge do local onde está, para voltar e escapar, virada e remexida ...
enfim, sou apenas uma viajante, aprendiz do tudo e do nada, uma nômade que acredita no amor.



E-mail para contato: anapperisse@yahoo.com

Eugenijus Konovalovas