Zifen Qian






     Leve


     Leve, leve, muito leve,  
     Um vento muito leve passa, 
     E vai-se, sempre muito leve. 
     E eu não sei o que penso 
     Nem procuro sabê-lo. 


     Alberto Caeiro

Zifen Qian





      O Meu Olhar


     O meu olhar é nítido como um girassol.
     Tenho o costume de andar pelas estradas
     Olhando para a direita e para a esquerda,
     E de, vez em quando olhando para trás...
     E o que vejo a cada momento
     É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
     E eu sei dar por isso muito bem...
     Sei ter o pasmo essencial
     Que tem uma criança se, ao nascer,
     Reparasse que nascera deveras...
     Sinto-me nascido a cada momento
     Para a eterna novidade do Mundo...
     Creio no mundo como num malmequer,
     Porque o vejo.  Mas não penso nele
     Porque pensar é não compreender ...

     O Mundo não se fez para pensarmos nele
     (Pensar é estar doente dos olhos)                  
     Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

     Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
     Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
     Mas porque a amo, e amo-a por isso,
     Porque quem ama nunca sabe o que ama
     Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...
     Amar é a eterna inocência,
     E a única inocência não pensar...


    Alberto Caeiro

Zifen Qian




A Neve


A neve pôs uma toalha calada sobre tudo. 
Não se sente senão o que se passa dentro de casa. 
Embrulho-me num cobertor e não penso sequer em pensar. 
Sinto um gozo de animal e vagamente penso, 
E adormeço sem menos utilidade que todas as ações do mundo.

Alberto Caeiro 


Zifen Qian





É Talvez o Último Dia da Minha Vida

É talvez o último dia da minha vida.
Saudei o sol, levantando a mão direita,
Mas não o saudei, dizendo-lhe adeus,
Fiz sinal de gostar de o ver antes: mais nada.



Alberto Caeiro 


Zifen Qian





Quando Eu


Quando eu não te tinha
Amava a Natureza como um monge calmo a Cristo.
Agora amo a Natureza
Como um monge calmo à Virgem Maria,
Religiosamente, a meu modo, como dantes,
Mas de outra maneira mais comovida e próxima ...
Vejo melhor os rios quando vou contigo
Pelos campos até à beira dos rios;
Sentado a teu lado reparando nas nuvens
Reparo nelas melhor —
Tu não me tiraste a Natureza ...
Tu mudaste a Natureza ...
Trouxeste-me a Natureza para o pé de mim,
Por tu existires vejo-a melhor, mas a mesma,
Por tu me amares, amo-a do mesmo modo, mas mais,
Por tu me escolheres para te ter e te amar,
Os meus olhos fitaram-na mais demoradamente
Sobre todas as cousas.
Não me arrependo do que fui outrora
Porque ainda o sou.
  
 
  Alberto Caeiro 


Zifen Qian





A Noite Desce


A noite desce, o calor soçobra um pouco,
Estou lúcido como se nunca tivesse pensado
E tivesse raiz, ligação direta com a terra
Não esta espécie de ligação de sentido secundário observado à noite.
À noite quando me separo das cousas,
E m'aproximo das estrelas ou constelações distantes —
Erro: porque o distante não é o próximo,
E aproximá-lo é enganar-me.



Alberto Caeiro 


Zifen Qian






Hoje de Manhã


Hoje de manhã saí muito cedo,
Por ter acordado ainda mais cedo
E não ter nada que quisesse fazer...
Não sabia por caminho tomar
Mas o vento soprava forte, varria para um lado,
E segui o caminho para onde o vento me soprava nas costas.

Assim tem sido sempre a minha vida, e 
assim quero que possa ser sempre —
Vou onde o vento me leva e não me 
Sinto pensar.
 

Alberto Caeiro 


Zifen Qian






O Amor é uma Companhia



O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.

Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.
Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.
 

Alberto Caeiro


Zifen Qian







      Não me Importo com as Rimas


     Não me importo com as rimas.  Raras vezes
     Há duas árvores iguais, uma ao lado da outra.
     Penso e escrevo como as flores têm cor
     Mas com menos perfeição no meu modo de exprimir-me 
     Porque me falta a simplicidade divina
     De ser todo só o meu exterior
     Olho e comovo-me,
     Comovo-me como a água corre quando o chão é inclinado, 
     E a minha poesia é natural corno o levantar-se vento...



    Alberto Caeiro

Zifen Qian





      
      Se Eu Pudesse



     Se eu pudesse trincar a terra toda 
     E sentir-lhe uma paladar,
     Seria mais feliz um momento ... 
     Mas eu nem sempre quero ser feliz. 
     É preciso ser de vez em quando infeliz 
     Para se poder ser natural...
     Nem tudo é dias de sol,
     E a chuva, quando falta muito, pede-se.
     Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
     Naturalmente, como quem não estranha
     Que haja montanhas e planícies
     E que haja rochedos e erva ...

     O que é preciso é ser-se natural e calmo
     Na felicidade ou na infelicidade,
     Sentir como quem olha,
     Pensar como quem anda,
     E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
     E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
     Assim é e assim seja ...


     Alberto Caeiro

Zifen Qian






    Há Poetas que são Artistas



     E há poetas que são artistas
     E trabalham nos seus versos
     Como um carpinteiro nas tábuas!...
     Que triste não saber florir!
     Ter que pôr verso sobre verso, como quem constrói um muro
     E ver se está bem, e tirar se não está!...
     Quando a única casa artística é a Terra toda
     Que varia e está sempre bem e é sempre a mesma.

     Penso nisto, não como quem pensa, mas como quem respira,
     E olho para as flores e sorrio...
     Não sei se elas me compreendem
     Nem sei eu as compreendo a elas,
     Mas sei que a verdade está nelas e em mim
     E na nossa comum divindade
     De nos deixarmos ir e viver pela Terra
     E levar ao solo pelas Estações contentes
     E deixar que o vento cante para adormecermos
     E não termos sonhos no nosso sono.


     Alberto Caeiro 


Zifen Qian





O Espelho

O espelho reflecte certo; não erra porque não pensa.
Pensar é essencialmente errar.    
Errar é essencialmente estar cego e surdo.
  

Alberto Caeiro








Zifen Qian

Como declaração visual, minha pintura destaca as tradições do ocidente e oriente com espírito moderno. Um dos principais aspectos de minha pintura é a diversidade cultural. Como um artista nascido na China, estou orgulhoso pelo privilégio e responsabilidade de criar trabalhos sob conceitos multiculturais, além de uma aproximação do romantismo Moderno. A diversidade cultural se torna um aspecto cada vez mais importante não apenas na expressão artística mas também em toda a comunicação livre na sociedade cultural global. A outra questão em minha pintura diz respeito ao padrão de arte. As técnicas de pintura são linguagens que deveriam expressar a filosofia, espírito e sentimentos do artista. Eu acredito que o artista profissional necessita de técnicas de confecção de imagem e da habilidade de utilizar essas técnicas para apresentar seus conceitos filosóficos. Seria errado afirmar que o artista só precisa de uma filosofia, e sem treinamento técnico. Minha pintura mostra claramente que arte não é apenas um simbolismo filosófico, mas também uma declaração única de criatividade e estética por meio das habilidades profissionais.