Erika Yamashiro




Ana Paula Perissé

um brinde às almas
insones
que, em tréguas de dor,
se entregam à felicidade
e, uma vez , ao menos
em brisa passada na tormenta
libertas
do instinto dos ventos
à deriva
extasiando-se em gozo e ardor

sê pequena
mas intensa
sorria com verdade
e redime-se
do fardo
por um segundo
já que o gosto de minhas lágrimas
é tempero em teu corpo
ardente

um brinde à fricção
que gera
como um segredo de entranhas
o mistério angelical
de se fazer um
pelo menos
em segundos
quando choram
anjos decaídos
de êxtase e
de amor

( amor são passagens em pairagens de tecidos inflados e nós não cabemos em nossa pele)

passageiros e efêmeros
prisioneiros de uma eternidade
casta
que se refaz
a cada ciclo
na praia de nossa cama
sortilégio que o destino das coisas
nos reservou.





...desce a noite


Oswaldo Antônio Begiato

...desce a noite,
mas eu não gosto de quando a noite desce,
me encho de temores,
me encho de covardias,
me encho de abandonos.


...desce a noite,
mas eu não gosto de quando a noite desce,
me encho de escadas,
me encho de labirintos,
me encho de tropeços.


...desce a noite,
mas eu não gosto de quando a noite desce,
me encho de perguntas,
me encho de vazios,
me encho de abismos.
.....................................................................................

...desce a noite,
mas eu gosto de quando a noite desce,
me encho de estrelas,
me encho de luas,
me encho de anjos.

...desce a noite,
mas eu gosto de quando a noite desce,
me encho de boemia,
me encho de vícios.
me encho de mim mesmo.

...desce a noite,
mas eu gosto de quando a noite desce,
me encho de respostas,
me encho de encantamentos,
me encho todinho de ti.

Erika Yamashiro

Erika Yamashiro

Soneto de aniversário

Passem-se dias, horas, meses, anos
Amadureçam as ilusões da vida
Prossiga ela sempre dividida
Entre compensações e desenganos.

Faça-se a carne mais envilecida
Diminuam os bens, cresçam os danos
Vença o ideal de andar caminhos planos
Melhor que levar tudo de vencida.

Queira-se antes ventura que aventura
À medida que a têmpora embranquece
E fica tenra a fibra que era dura.

E eu te direi: amiga minha, esquece...
Que grande é este amor meu de criatura
Que vê envelhecer e não envelhece.

Vinícius de Moraes








Erika Yamashiro