Willem Haenraets











O Dom Milagroso de um Grande Amor

Na vida de toda a gente há braçados floridos dessas tolices sem importância. Só a raros eleitos é dado o milagroso dom de um grande amor. Eu teria muita pena que o destino não me trouxesse esse grande amor que foi o meu grande sonho pela vida fora. Devo agradecer ao destino o favor de ter ouvido a minha voz. Pôr finalmente, no meu caminho, a linda alma nova, ardente e carinhosa que é todo o meu ampa­ro, toda a minha riqueza, toda a minha felicidade neste mundo. A morte pode vir quando quiser: trago as mãos cheias de rosas e o coração em festa: posso partir contente.

Florbela Espanca

Willem Haenraets







AMAR! 
 
Eu quero amar, amar perdidamente! 
Amar só por amar: aqui... além... 
Mais Este e Aquele, ou Outro e toda a gente... 
Amar! Amar! E não amar ninguém! 
 
Recordar? Esquecer? Indiferente! ... 
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente! 
 
Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi para cantar! 
E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar... 

Florbela Espanca


Willem Haenraets







 "Olhe que a única maneira de na vida ser feliz, principalmente os seres como você, de uma grande sensibilidade, de uma extraordinária imaginação, a única maneira é construir-se um lar bem doce, bem cheio de luz onde, longe do mundo, se possa amar, se possa trabalhar, se possa viver."

Florbela Espanca



Willem Haenraets






ESCREVE-ME ... 
 
Escreve-me! Ainda que seja só
Uma palavra, uma palavra apenas,
Suave como o teu nome e casta
Como um perfume casto d’açucenas! 
 
Escreve-me! Há tanto, há tanto tempo
Que te não vejo, amor! Meu coração
Morreu já, e no mundo aos pobres mortos
Ninguém nega uma frase d’oração! 
 
“Amo-te! ” Cinco letras pequeninas,
Folhas leves e tenras de boninas,
Um poema d’amor e felicidade! 
Não queres mandar-me esta palavra apenas?
Olha, manda então... brandas... serenas... 
Cinco pétalas roxas de saudade... 

Florbela Espanca




Willem Haenraets






SONHOS
 
Ter um sonho, um sonho lindo,
Noite branda de luar,
Que se sonhasse a sorrir... 
Que se sonhasse a chorar... 
 
Ter um sonho, que nos fosse
A vida, a luz, o alento,
Que a sonhar beijasse doce
A nossa boca... um lamento... 
 
Ser pra nós o guia, o norte,
Na vida o único trilho;
E depois ver vir a morte
Despedaçar esses laços! ... 
É pior que ter um filho
Que nos morresse nos braços! 

Florbela Espanca

Willem Haenraets









"Eu não sou como muita gente: entusiasmada até à loucura no princípio das afeições e depois, passado um mês, completamente desinteressada delas. Eu sou ao contrário: o tempo passa e a afeição vai crescendo, morrendo apenas quando a ingratidão e a maldade a fizerem morrer."

Florbela Espanca


Willem Haenraets







A NOSSA CASA
 
A nossa casa, Amor, a nossa casa! 
Onde está ela, Amor, que não a vejo? 
Na minha doida fantasia em brasa 
Constrói-a, num instante, o meu desejo 
 
Onde está ela, Amor, a nossa casa, 
O bem que neste mundo mais invejo? 
O brando ninho aonde o nosso beijo 
Será mais puro e doce que uma asa? 
 
Sonho... que eu e tu, dois pobrezinhos. 
Andamos de mãos dadas, nos caminhos 
Duma terra de rosas, num jardim, 
Num pais de ilusão que nunca vi... 
E que eu moro — tão bom! — dentro de ti 
E tu, ó meu Amor, dentro de mim... 

Florbela Espanca

Willem Haenraets








SAUDADES
 
Saudades! Sim... talvez... e porque não?... 
Se o nosso sonho foi tão alto e forte 
Que bem pensara vê-lo até à morte 
Deslumbrar-me de luz o coração! 
 
Esquecer! Para quê?... Ah, como é vão! 
Que tudo isso, Amor nos não importe. 
Se ele deixou beleza que conforte 
Deve-nos ser sagrado como o pão. 
 
Quantas vezes, Amor, já te esqueci, 
Para mais doidamente me lembrar 
Mais doidamente me lembrar de ti! 
E quem dera que fosse sempre assim: 
Quanto menos quisesse recordar 
Mais a saudade andasse presa a mim! 

Florbela Espanca


Willem Haenraets







SE TU VIESSES VER-ME... 
 
Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços... 
 
Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos... 
O teu riso de fonte... os teus abraços... 
Os teus beijos... a tua mão na minha... 
 
Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri
E é como um cravo ao sol a minha boca... 
Quando os olhos se me cerram de desejo... 
E os meus braços se estendem para ti... 

Florbela Espanca

Willem Haenraets



  

SÚPLICA
 
Olha para mim, amor, olha para mim;
Meus olhos andam doidos por te olhar! 
Cega-me com o brilho de teus olhos
Que cega ando eu há muito por te amar. 
 
O meu colo é arminho branco imaculado
Duma brancura casta que entontece;
Tua linda cabeça loira e bela
Deita em meu colo, deita e adormece! 
 
Os meus braços são brancos como o linho
Quando os cerro de leve, docemente... 
Oh! deixa-me prender-te e enlear-te
Nessa cadeia assim eternamente! ... 
 
Vem para mim, amor... Ai não desprezes
A minha adoração de escrava louca! 
Só te peço que deixes exalar
Meu último suspiro na tua boca!... 

Florbela Espanca

Willem Haenraets







Se tu viesses ver-me...

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...

Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...

Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...


Florbela Espanca

Willem Haenraets



Willem Haenraets

Com cores suaves, o artista monta um mundo romântico de maravilhosas ilusões em suas telas. Nasceu em Roterdam, em 1940, e seu talento foi percebido desde cedo. Tinha apenas 16 anos quando começou seu aprendizado na escola de artes em Maastricht, ao qual deu sequência em Antuérpia. Com uma bolsa obtida em função de seu talent, recebeu seu polimento artístico com Sarina Vaarten. Suaqs criações são uma evidência de que a grande tradição da escolar belgo-holandesa recebe com ele uma talentosa continuidade.












"O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais, há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesmo compreendo, pois estou longe de ser uma pessimista; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que se não sente bem onde está, que tem saudades... sei lá de quê!"