Vincent van Gogh



O ESPELHO



Queria ser ele, o espelho
para receber o seu sorriso
o seu olhar investigador
a sua boca cheia da lua



Queria ser o espelho
para ver os seus cabelos cambaleantes
a aura azul
e a pele enveludada



Queria ser o espelho
para secar suas lágrimas
encorajá-la a continuar
e dizer que é bela



Queria ser o espelho

para sentir o que sente

para ver o que vê,

compartilhar sua assertividade e perceber

o que sequer você percebe



Queria ser o espelho
para aliviar suas costas
acabar com a culpa
e me confundir com sua pele



Queria ser o espelho
para te ver de mansinho
caladinho
ter vontade de ficar abraçadinho e
vê-la dormir



Lúcio Alves de Barros


Vincent van Gogh









Contradições amorosas




Você, no alto dos seus belos olhos, diz ter medo
Eu, abaixo de sua linha da cintura, digo... eu sou o medo



Você, plantada na experiência, de uma longa vida, diz que sofreu
Eu, ainda cambaleante em meu triste corpo, digo que sangrei



Você, alinhada em seu perfil de estrela, afirma que chorou
Eu, mascarado em minha face de aço, saliento que me desmanchei em lágrimas



Você, ser sedento de paz e ternura, diz amar
Eu, impaciente e temeroso, digo ter dificuldades em entregar, arriscar e doar



Você, na intensidade de sua ansiedade, busca a felicidade
Eu, entregue às minhas eternas limitações, me apego à realidade.



Você, altiva e bonita, diz Sim e Não
Eu, cansado e sem esperanças, digo Não e Sim.



Lúcio Alves de Barros


Vincent van Gogh

Biografia

Vincent Van Gogh é considerado um dos principais representantes da pintura mundial. Nasceu na Holanda, no dia 30 de março de 1853. Teve uma irmã e um irmão chamado Theo. Com este irmão, estabeleceu uma forte relação de amizade. Através das cartas que trocou com o irmão, os pesquisadores conseguiram resgatar muitos aspectos da vida e do trabalho do pintor.

Começou a atuar profissionalmente ainda jovem, por volta dos 15 anos de idade. Trabalhou para um comerciante de arte da cidade de Haia. Com quase vinte anos, foi morar em Londres e depois em Paris, graças ao reconhecimento que teve. Porém, o interesse pelos assuntos religiosos acabou desviando sua atenção e resolveu estudar Teologia, na cidade de Amsterdã. Mesmo sem terminar o curso, passou a atuar como pastor na Bélgica, por apenas seis meses. Impressionado com a vida e o trabalho dos pobres mineiros da cidade, elaborou vários desenhos à lápis.

Resolveu retornar para a cidade de Haia, em 1880, e passou a dedicar um tempo maior à pintura. Após receber uma significativa influência da Escola de Haia, começou a elaborar uma série de trabalhos, utilizando técnicas de jogos de luzes. Neste período, suas telas retratavam a vida cotidiana dos camponeses e os trabalhadores na zona rural da Holanda.

O ano de 1886, foi de extrema importância em sua carreira. Foi morar em Paris, com seu irmão. Conheceu, na nova cidade, importantes pintores da época como, por exemplo, Emile Bernard, Toulouse Lautrec, Paul Gauguin e Edgar Degas representantes do impressionismo. Recebeu uma grande influência destes mestres do impressionismo, como podemos perceber em várias de suas telas

Dois anos após ter chegado à França, parte para a cidade de Arles, ao sul do país. Uma região rica em paisagens rurais, com um cenário bucólico. Foi neste contexto que pintou várias obras com girassóis. Em Arles, fez único quadro que conseguiu vender durante toda sua vida : A Vinha Encarnada.

Convidou Gauguin para morar com ele no sul da França. Este foi o único que aceitou sua idéia de fundar um centro artístico naquela região. No início, a relação entre os dois era tranqüila, porém com o tempo, os desentendimentos foram aumentando e, quando Gauguin retornou para Paris, Vincent entrou em depressão. Em várias ocasiões teve ataques de violência e seu comportamento ficou muito agressivo. Foi neste período que chegou a cortar sua orelha.

Seu estado psicológico chegou a refletir em suas obras. Deixou a técnica do pontilhado e passou a pintar com rápidas e pequenas pinceladas. No ano de 1889, sua doença ficou mais grave e teve que ser internado numa clínica psiquiátrica. Nesta clínica, dentro de um mosteiro, havia um belo jardim que passou a ser sua fonte de inspiração. As pinceladas foram deixadas de lado e as curvas em espiral começaram a aparecer em suas telas

No mês de maio, deixou a clínica e voltou a morar em Paris, próximo de seu irmão e do doutor Paul Gachet, que iria lhe tratar. Este doutor foi retratado num de seus trabalhos: Retrato do Doutor Gachet. Porém a situação depressiva não regrediu. No dia 27 de julho de 1890, atirou em seu próprio peito. Foi levado para um hospital, mas não resistiu, morrendo três dias depois.

Principais obras de Van Gogh:

Os comedores de batatas (1885)
A italiana
A vinha encarnada
A casa amarela (1888)
Auto-retratos
Retrato do Dr. Gachet
Girassóis
Vista de Arles com Lírios
Noite Estrelada
O velho moinho (1888)
Oliveiras (1889)










Saudades sem fim



Desejo retornar ao útero materno

Local quente, protegido, amado e cuidado

Tenho saudades das mãos sobre minha cabeça e o arranjar do meu corpo

Dos sonhos que ouvia e dos amores dos quais fui cúmplice e coadjuvante

Tenho direito de ter saudades das canções de ninar e das orações suplicantes

Tenho saudades das batidas do coração dela

Do funcionamento dos órgãos e dos desejos

Saudades de mim e dela fora de mim

Saudades da espera ansiosa e, por vezes, paciente de minha chegada

Eu cheguei

Ela se foi

De tudo sobrou o muito da memória viva do meu complexo

E da sempre eterna e inexorável vontade de novamente fazer parte dela.


Lúcio Alves de Barros




* Lúcio Alves de Barros é licenciado e bacharel em Ciências Sociais pela UFJF, mestre em Sociologia e doutor em Ciências Humanas: Sociologia e Política pela UFMG. É autor do livro “Fordismo: origens e metamorfoses”. Piracicaba, SP: Ed. UNIMEP (Universidade Metodista de Piracicaba), 2004, organizador do livro “Polícia em Movimento”. Belo Horizonte: Ed. ASPRA, 2006, co-autor do livro de poesias, “Das emoções frágeis e efêmeras”. Belo Horizonte: Ed. ASA, 2006 e organizador da obra “Mulher, política e sociedade”. Brumadinho: Ed. ASA, 2009.



Lúcio Alves de Barros


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