O. Heinze


O Perfumador de Flores / por O.Heinze

Eis minha vida
que ninguém conhece;
minha eterna lida
suave parecendo prece...

Não tenho nome;
nem tenho cor;
não passo fome;
vivo de flor...

Sou um designado:
o Perfumador de Flores;
vou nos jardins, vasos,
buquês de amores...

Porém, camélias,
dálias e margaridas,
preferem ser sérias,
um tanto contidas...

Transfiro, sendo assim,
o perfume que delas era,
para a rosa e o jasmim
fazerem primavera...

Ao sentires fragrância
numa flor ou no ar,
saiba que minha ânsia
vive por perfumar...





O. Heinze








O encantador de borboletas / por O.Heinze

Não carrego flores
essências

tons multicores
luminescências.


Estou andarilho
na selva de cimento
por onde trilho
faço encantamento...


e atraio borboletas
de cores intensas

rosáceas, violetas
pequenas ou imensas...


Andando por este sonho
notei que uma não me quer

tem medo que a magia que ponho
possa transmutá-la em mulher...
 


O. Heinze


Cisne negro / por O.Heinze



Em não podendo mais morar
nesta vestimenta humana
desejaria habitar no corpo
de um flutuante cisne negro,
para viver do silêncio
no lago tranqüilo espelhado;
na pacífica montanha adormecida;
no desprendido céu observador;
na mansuetude das aragens
vindas sopradas do norte,
tocando uma sinfonia morna,
inaudível para estes exteriores,
mas que faz valsar às almas
das tabuas, das águas na superfície,
e esta minha, agora mais branca
que a brancura da ternura,
inspirando-me, talvez, jamais acordar

de volta para a razão humana..


.




Loja de sonhos / por O.Heinze


Roubei num tempo distante
uma faixa de praia e de mar
e guardei numa concha grande
de onde escuto o cantar

encantador: das sereias
libertador: das gaivotas
namorador: das baleias
das ondas: contra ilhotas.

E enquanto a maré vai fluindo
na praia de minhas lembranças
sinto um calor me cobrindo
da brisa salgada que dança.

Revejo um pesqueiro moroso
empurrado pela calma do acaso
num mar bem preguiçoso
de azuis aonde vou raso...

Reparo na praia tão cheia
crianças brincando, vendedores cantando
assobios e risos na areia
e minha fantasia namorando...

Eis que voltando para a realidade
essa fantasia continua fantasia
meia mentira, meia verdade
guardada nessa concha vazia...

O. Heinze




Compra-se amor / por O.Heinze

Tantas lojas e ruas
com todo tipo de gente
de corpos presentes
cabeças na lua
olhares ausentes.

Em roupas belas ou cruas
pelo lado de fora
e por dentro? Ora... ora...
Igualmente nuas.

Mais lojas e ruas
menos a que preciso.
Procuro onde venda
um largo sorriso
um abraço apertado
um olhos nos olhos
meio envergonhado.

E se por força do acaso
quem nessa loja atender
não quiser me vender
mas sim trocar isso tudo...
me deixarei flutuar
num beijo longo e carnudo
no grátis de se amar...