Carla Bedini










Perdida com Brinco de Pérolas


Teu olhar,

tuas mãos distantes,

me afaga a alma e

me agita os poros.

O ecoar da tua voz em minhas nervuras

é frêmita sinfonia desconhecida

Ah! Stravinsky...

Notas dissonantes encontram ritmo

em meu corpo nu,

sintonia cósmica que já me preenche de sermos.


E é pelo tato ardido que se faz amor,

roçar de chamas,

é pelo beijo que nos faríamos extasiados.

Através do calor,

do esfregaço de corpos

nos faríamos artistas,

poetas, talvez,

do arder divinal.


O alarme da carne ansiosa é sirene incessante,

Escuta-me!

O tremor diáfano das minhas células em desencanto

me atordoam o espírito,

Toca-me!

E o silêncio que me grita reverbera, sem ecos,

no pulsar de um coração que ainda lateja.


Vertigem abissal de querer-te.


Ana Paula Perissé



Carla Bedini






Farsantes


a ardência do real
em flocos prateados
obscura
em parte, enluarada
todavia, ainda
pulsante de ficção!

ah! a deliciosa delicadeza ficcional
o que é de facto?

o quê sou de facto?

vertigens de arrepios

farsantes
(uma chama bruxuleante
sempre ao relento)
sombras iluminadas

com vontades autônomas
sem nomes

somente, aparições

( eu abraço o acaso, será que ele me permite?)


Ana Paula Perissé

Carla Bedini







Não Ser Nós



Então,

não sou
aquilo que não posso ser
porque me avilta.

Nunca seremos

posto que há muralha
erguida
diante de nós.

Escavo martelo escavo
desconheço esta estranha origem

das coisas
e estremeço de cansaço.

O muro ancestral nos pesa
em sobrepeso social

não somos

nunca fomos
não mais.


Coletividade partida.

Fragmentos de indivíduos
Sós.

Ana Paula Perissé





Carla Bedini





Humanidade



tão vivo dentro de mim
estás
em labirintos de amor
partilhados

humanos com asas
nos fazemos
quando nossas almas
aqui,
nesta cama
desdobram-se
enluaradas.

Ana Paula Perissé




Carla Bedini

Carla Bedini




Dobras do Cotidiano


Ana Perissé*


Não deixar a vida perder-se
silenciosamente
no espectro de seu inverso;
porque poucos o traduzem
ou têm coragem para gritar o indizível.

Clamor em ondas de silêncio
do inaudito,

frio

ou mequetrefe,
que se revelem!

O oposto do belo
é a beleza crua
a se desvelar
na crueza das dobras do cotidiano.

Pelo gargalo
ou pelo ralo
ainda há pulsação
autêntica.

Pela estética do que difere
ou que também

e ainda
fere!