José Roosevelt/Juan Alberto






José Roosevelt/Juan Alberto










Carta aos terráqueos


Até quando vocês
vão se esconder
atrás de altos muros;
insulfilmes escuros;
máscaras sem furos;
óculos escuros;
egos inseguros;
preconceitos duros
passados obscuros;
vícios burros;
60 X com juros;
por causa de uns
lunáticos impuros?

Cordialmente: Mundo Bem


O.Heinze

José Roosevelt/Juan Alberto









Quando eu crescer


Quando eu crescer
vou querer ser um ipê
rico em ouro
morando alto
numa casa azul...

Vou querer vizinhos de lei:
jatobá, imbuia,
mogno, pau-brasil...

Aceitarei como visitas
só as importantes:
cigarra, sagüi,
arara, colibri,
besouro, abelha jataí...

A religião para me guiar?...
Sei lá!
Nem vou precisar... 


O. Heinze


José Roosevelt/Juan Alberto










Ainda há tempo


É, as pessoas perderam tempo...
Agora correm atrás dele
em volta dos parques
para lá e para cá nas praias
ou no mesmo lugar em esteiras...

Mas o tempo não tem volta
o tempo perdido não se resgata
e a mente que não mede tempo
vai se abastecendo de pensamentos
que em tempo algum materializaram.

Enquanto isso
cada instante não usado no agora
vira nada, tempo vazio
frustração, talvez, em cada estória
pois não passou de vontade...

É, as pessoas perderam tempo...
Agora correm atrás dele...
E para que correm tanto
se nada alcançarão com isso?... 


O. Heinze

José Roosevelt/Juan Alberto







Entre parênteses


No maravilhoso da noite
abriu-se o parêntese
chamado crescente
onde estrelas riscaram
desejos dos mais lindos
onde olhares escreveram
sonhos dos mais doces
onde num espaço incontido
todas as dimensões estavam...

Fechou-se o parêntese
chamado minguante
e a noite escureceu total
e tudo entre parênteses
se foi com o portal
viver simplesmente
num lugar sem nome
endereço, somar dos dias
mas que alguns românticos
chamam de fantasias...


O. Heinze

José Roosevelt/Juan Alberto







Picolé humana


Já que não posso ainda
estar dentro de ti
no modo de amor que brinda
ou da paixão que sorri
fico daqui de fora
num calor que demora
com meu gordo olhar
deslizando no jambo

da tua pele à suar
e te lambo, lambo
com minhas idéias
doces iguais colméias
esperando pacificamente
que teu caminho solitário
erre o costume diário
cruzando com o meu à frente...


O. Heinze

José Roosevelt/Juan Alberto








Feito prece


Num improvisado vaso
de litro de leite
neste dia do acaso
mergulhei flores de enfeite

dessas achadas no mato
para alegrar minha mesa
e me encantar enquanto cato
saudades com leveza

que voam além das telhas
soltas lá no passado
iguais a essas abelhas
procurando bom melado.

Se asas eu tivesse
não quereria ser anjo
voaria feito prece
nesse amor que esbanjo

retornando naquele instante
cheio de vida e amor
e brilhante igual diamante
colheria você mulher flor...

O. Heinze

José Roosevelt/Juan Alberto







O sapo encantado


Sou um sapo encantado
na alameda da vida
tentando chamar a atenção
da paixão de uma princesa
que com seu beijo mágico
faça eu me sentir um príncipe...


Mas qual me quereria
se não falo inglês, espanhol
não tenho carro do ano
sequer tomo anabolizantes?...

Qual me aceitaria
sem uma faculdade
casa própria e de veraneio
cartões de crédito
e nove dígitos na conta?

Que adianta ter em mim
todo amor universal
a transparência da honestidade
a palavra de honra de um sapo
se não sou o homem sonhado???...


O. Heinze

José Roosevelt/Juan Alberto








O encantador de borboletas


Não carrego flores
essências
tons multicores
luminescências.

Estou andarilho
na selva de cimento
por onde trilho
faço encantamento...

e atraio borboletas
de cores intensas
rosáceas, violetas
pequenas ou imensas...

Andando por este sonho
notei que uma não me quer
tem medo que a magia que ponho
possa transmutá-la em mulher...


O. Heinze

José Roosevelt/Juan Alberto








Trevo de três


Que manhã bela àquela
os bem-te-vis se viam
as flores todas sorriam
porque a vida era delas

Gemiam sem dor três sinos
desfazendo sem desfazer
o silêncio de prazer
no acordar dos santos ninhos

Sabia minha intuição...

Crianças saltavam da cama
em busca de ovos coloridos
botados por coelhos fugidos
escondidos cá fora nas ramas

Lá no começo desta lembrança...

Vi trevos de três folhas, fortes
quem disse que não trazem sorte
poderia haver mais sorte que essa
estar naquela manhã em festa?

Ah se de quatro o trevo fosse...
Teria voltado correndo mostrar
só que a lembrança não iria lembrar
dessa manhã perfeitamente doce..


O. Heinze