Fátima Queiroz




Trem das Cores

A franja da encosta
Cor de laranja
Capim rosa - chá
O mel desses olhos
Mel de cor ímpar
O ouro ainda não bem verde da serra
A prata do trem
A lua e a estrela
Anel de turquesa
Os átomos todos dançam
Madruga
Reluz neblina
Crianças cor de romã
Entram no vagão
O oliva da nuvem chumbo ficando
Pra trás da manhã
E a seda azul do papel
Que envolve a maçã
As casas tão verde e rosa
Que vão passando ao nos ver passar
Os dois lados da janela
E aquela num tom de azul
Quase inexistente azul que não há
Azul que é pura memória de algum lugar
Teu cabelo preto
Explícito objeto
Castanhos lábios
Ou pra ser exato
Lábios cor de açaí
E aqui trem das cores
Sábios projetos
Tocar na Central
E o céu de um azul
Celeste celestial

Caetano Veloso


Fátima Queiroz











As partículas flutuam no espaço,
Tão leves e delicadas,
Tocam-se trocando calor,
As esferas ganhando ou perdendo
Preenchem os espaços que parecem vazios.





Dora Dimolitsas


Fátima Queiroz







Réquiem Para Uma Ama



De sua boca, de risos claros, cantigas sacudiram
as transparentes imagens de um mundo simples e terno.
Suas palavras que artesãos construíram de puros metais
me descerraram a vida e levaram coros para a minha
imaginação.
Os seus braços tinham firmeza de barco e doçura de vôos
para seduzirem a minha infância.
A pureza de seu coração
desabrochou ternuras para os meus dias.
A sua lembrança me comove
nesta hora sombria de meu canto.



Myriam Coeli
01 de setembro de 1958