Lisa Falzon

A multifacetada Lisa Naudi Falzon é um caleidoscópio de artes gráficas, mas vai muito além do tratamento de imagens. É ela própria que define sua metodologia. “Quando eu trabalho digitalmente, uso normalmente o photoshop. Daí em diante é um trabalho contínuo em aerógrafo ou uma técnica que chamo de colagem digital. Já trabalhei com capas de livros, CDs, ilustrações de livros infantis, publicidade em painéis. E tenho planos para produzir quadrinhos muito em breve”, diz a artista. Claro, sem mencionar sua primeira novela, publicada em 2008. Formalmente, Lisa seria artista plástica e ilustradora. Nascida em Malta em 1983, viveu na França e se considera cidadã do mundo. “Além da pintura, adoro escrever, ler, navegar na internet, bordar, mobília vitoriana, coisas bonitinhas, tempestades, ostentação, literatura infantil, inverno, dança do ventre, seguir blogs, ruínas, Sherlock Holmes, sushi, erotismo antigo, poesia, Rei Arthur...Adoro criar e as pessoas criativas. Raramente estou desanimada”, conta.

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GOTAS DE FEL





Não cantes: sempre fica
à tua língua apegado
um canto: o que faltou ser enviado.



Não beijes: sempre fica,
por maldição estranha,
o beijo a que não chegam as entranhas.



Reza, reza que é bom; mas sabe
que não acerta dizer tua língua avara,
o único Pai Nosso que salvara.



E não chames a morte de clemente,
pois nas carnes de brancura imensa,
ficará uma beirada viva que sente
a pedra que te afoga
e o verme voraz que te destrança.




Gabriela Mistral

Lisa Falzon









A flor do ar


Eu a encontrei por meu destino,
de pé a metade da pradaria,
governadora do que passe,
do que lhe fale e que a veja.

E ela me disse: “Sobe ao monte.
Eu nunca deixo a pradaria,
e me cortas as flores brancas
como neves, duras e delicadas”.

Subi à ácida montanha,
busquei as flores onde alvejam,
entre as rochas existindo
meio dormidas e despertas.

Quando desci com minha carga,
a encontrei a metade da pradaria.
e fui cubrindo-a frenética
com uma torrente de açucenas

e sem olhar-se a brancura,
ela me disse: “Tu carregas
agora só flores vermelhas.
Eu não posso passar a pradaria”.

Subi as penas com o veado
e busquei flores de demência,
as que avermelham e parecem
que de vermelho vivam e morram.


Gabriela Mistral


Lisa Falzon







Apegado a mim


Floco de lã de minha carne,
que em minha entranha eu teci,
floco de lã friorento,
dorme apegado a mim!
A perdiz dorme no trevo
escutando-o latir:
não te perturbem meus alentos,
dorme apegado a mim!
Ervazinha assustada
assombrada de viver,
não te soltes de meu peito:
dorme apegado a mim!
Eu que tudo o hei perdido
agora tremo de dormir.
Não escorregues de meu braço:
dorme apegado a mim!


Gabriela Mistral

Tradução - Maria Teresa Almeida Pina