Edward Hopper







A MARIE-LOUISE SHEW


Aquele que estas linhas traça, outrora,
no louco orgulho do intelectualismo,
defendia o "poder do verbo", crendo
jamais haver na mente um pensamento
que fosse intraduzível em palavras.
Mas, agora, a zombar dessa jactância,
dois dissílabos suaves, estrangeiros,
sons da Itália, só de anjos murmurados
quando sonham ao luar, que faz do orvalho
"sobre o outeiro do Hermon um rio de pérolas",
tiraram, dos abismos deste peito,
almas de pensamentos não pensados,
visões tão belas, singulares, célicas,
que nem mesmo Israfel, cantor seráfico
("a mais doce das vozes já criadas")
poderia narrar. Quebrou-se o encanto!
Cai a pena, impotente, da mão trêmula.
Com teu nome por tema, embora o ordenes,
eu não posso escrever... Pois não é sentimento
ficar assim, imóvel, à dourada
enorme porta aberta sobre os sonhos,
contemplando, extasiado, o panorama,
trêmulo, por só ver, de cada lado
e pela longa estrada, entre impurpúreas
névoas, e na distância, onde termina
a perspectiva -
A TI UNICAMENTE.

Edgar Allan Poe


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