Jeff Neugebauer





Triste fim


Ela estava na janela alegre
Sentou-se na frente devido à idade avançada de anos
Estava azul o dia de sol amarelo e seco
Pombas, homens, mulheres e crianças passavam
Um senhor gordo lhe deu tchau
Um cão gosmento a viu de longe
e de perto ela via os automóveis estacionarem ao lado
O sinal vermelho e chato fechava sua visão
A ansiedade a comia por dentro
Sonhos e sonhos invadiam a mente ainda saudável e voraz
Netos, sobrinhos, filhos e filhas a acompanhavam em pensamento
Tudo em mil maravilhas
Um forte empurrão a senhora velha sentiu
Uma freada deseducada e mal sucedida
Ela perdeu os movimentos singelos
Saiu voando como um pássaro bêbado
Seguiu firme no ar como um raio no céu
Bateu duro no vidro do coletivo cheio de gente escrava
O grande carro parou e com ele toda sua vivacidade de então
Poucos minutos infernais e quentes
As costas a projetaram no ar sem controle
Não existe segurança para velhos, pobres e crianças
Motoristas idiotas não respeitam os mais adiantados na experiência de vida
Idosos deveriam ter asas
Talvez não ajudassem naquele momento
Tudo foi muito rápido e conturbado
E lá foi ela de encontro ao aquário em movimento
Caiu firme pela escada suja
Doeu tudo
Inacreditável a queda e o olhar de peixe morto do motorista
Todo mundo viu, poucos ajudaram
Ela foi se levantando no pequeno cubículo que lhe contorceu a coluna
Amargurada, envergonhada, avermelhada
Dia ruim aquele, antes bom e quente
Dores e mais dores foram esquecidas diante de olhares ocos
A maldade humana não tem limites
Cabelos desmanchados, roupas sujas, cotovelos e mãos arranhadas
O desrespeito a céu aberto
Uma jovem ainda ri
Uma outra vira de lado e tripudia da velha ainda zonza
A porta se abre
É o seu distante ponto.
O tempo foi seu inimigo. A freada veio antes
Justificativas saem da boca suja de quem segura um volante
Pergunta desgraçadamente se está tudo bem
Ela balbucia algo tremido, sofrido e ardido
O coletivo segue a trajetória fúnebre
Deixando para trás a velha antes alegre e viva
Agora está como o cachorro que de longe avistou
Triste chegada para uma vida de empenho, trabalho, luta e galhardia
Triste fim para um dos piores dias de um ser humano

Lúcio Alves de Barros

2 comentários:

Nara Liza disse...

Quanto encantamento, a alma humana na poética visual e escrita. Lírico, grande, generoso e belíssimo.

Anônimo disse...

"Eu só confio nas pessoas loucas, aquelas que são loucas pra viver, loucas para falar, loucas para serem salvas, desejosas de tudo ao mesmo tempo, que nunca bocejam ou dizem uma coisa corriqueira, mas queimam, queimam, queimam, como fabulosas velas amarelas romanas explodindo como aranhas através das estrelas". (Jack Kerouac)


Este blog é louco demais e adoro tudo que aqui é mostrado. Beijosss