Claude Monet






Lúbrica


Mandaste-me dizer, 
No teu bilhete ardente, 
Que hás-de por mim morrer, 
Morrer muito contente. 

Lançaste no papel 
As mais lascivas frases; 
A carta era um painel 
De cenas de rapazes! 

Ó cálida mulher,
 
Teus dedos delicados 
Traçaram do prazer 
Os quadros depravados! 

Contudo, um teu olhar 
É muito mais fogoso, 
Que a febre epistolar 
Do teu bilhete ansioso: 

Do teu rostinho oval
 
Os olhos tão nefandos 
Traduzem menos mal 
Os vícios execrandos. 

Teus olhos sensuais
 
Libidinosa Marta, 
Teus olhos dizem mais 
Que a tua própria carta. 

As grandes comoções
 
Tu, neles, sempre espelhas; 
São lúbricas paixões 
As vívidas centelhas... 

Teus olhos imorais, 
Mulher, que me dissecas, 
Teus olhos dizem mais, 
Que muitas bibliotecas!


Cesário Verde

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