Moki








Plano


Trabalho o poema sobre uma hipótese: o amor 
que se despeja no copo da vida, até meio, como se 
o pudéssemos beber de um trago. No fundo, 
como o vinho turvo, deixa um gosto amargo na 
boca. Pergunto onde está a transparência do 
vidro, a pureza do líquido inicial, a energia 
de quem procura esvaziar a garrafa; e a resposta 
são estes cacos que nos cortam as mãos, a mesa 
da alma suja de restos, palavras espalhadas 
num cansaço de sentidos. Volto, então, à primeira 
hipótese. O amor. Mas sem o gastar de uma vez, 
esperando que o tempo encha o copo até cima, 
para que o possa erguer à luz do teu corpo 
e veja, através dele, o teu rosto inteiro.


Nuno Júdice