Almada Negreiros

José Sobral de Almada Negreiros, escritor e artista plástico, nasceu na Ilha de São Tomé em 7 de Abril de 1893 e morreu em Lisboa em 15 de Junho de 1970.

Estudou com os Jesuítas no Colégio de Campolide e na Escola Nacional de Belas – Artes, em Lisboa.

Em 1911, escreveu a sua primeira peça de teatro. Expôs pela primeira vez em 1912, tendo posteriormente estudado Pintura em Paris.

Entre as suas obras plásticas avultam as pinturas murais das gares marítimas do porto de Lisboa (Alcântara e Rocha de Conde de Óbidos) e o retrato de Fernando Pessoa. A sua obra literária ficou quase sempre dispersa por revistas e jornais e, raras vezes, veio a lume após a sua criação.

Vulto cimeiro da vida cultural portuguesa, durante quase meio século, Almada Negreiros contribuiu, mais que ninguém, para a criação, prestígio e triunfo do modernismo artístico em Portugal.

"Almada Negreiros, poeta e pintor futurista, foi a personagem mais escandalosa do grupo Orpheu, nomeadamente pelo teor provocatório das suas conferências e pela sua postura física. Recitava versos e manifestos a correr por cima das mesas provocando, assim, o escândalo. Durante o Salazarismo, foi nos cafés do Chiado que as gerações do pós-guerra discutiram e se revoltaram pela liberdade que tardava.”

A arte de Almada está bem patente em todas as suas pinturas murais, no retrato extremamente expressivo de Fernando Pessoa e no seu auto-retrato ,onde os olhos ganham um relevo especial pela profundidade e quase um "espanto" da vida, uma vontade de a penetrar e de a subverter.

(Extraído de «O Grande Livro dos Portugueses»)




"Eu sou o resultado consciente da minha própria experiência"


“AS PESSOAS QUE EU MAIS ADMIRO SÃO AQUELAS QUE NUNCA ACABAM.”



"Não tenho culpa de ter nascido em Portugal, e exijo uma pátria que me mereça"

“Nós não somos do século de inventar as palavras. As palavras já
foram inventadas. Nós somos do século de inventar outra vez as
palavras que já foram inventadas.”


É “numa Pátria onde a tentativa democrática se compromete quotidianamente”, com a instabilidade política e os “interesses dos partidos” prejudicando “sempre o interesse comum da Pátria”que Almada Negreiros nos propõe – muito para lá do âmbito da época, que é o pano do fundo de “Portugal” – um drama existencial para um José dividido entre o Dever e o Ser”…(

Reconhecimento à loucura






Já alguém sentiu a loucura
vestir de repente o nosso corpo?
Já.
E tomar a forma dos objetos?
Sim.
E acender relâmpagos no pensamento?
Também.
E às vezes parecer ser o fim?
Exatamente.
Como o cavalo do soneto de Ângelo de Lima?
Tal e qual.
E depois mostrar-nos o que há de vir
muito melhor do que está?
E dar-nos a cheirar uma cor
que nos faz seguir viagem
sem paragem
nem resignação?
E sentirmo-nos empurrados pelos rins
na aula de descer abismos
e fazer dos abismos descidas de recreio
e covas de encher novidade?

E de uns fazer gigantes
e de outros alienados?
E fazer frente ao impossível
atrevidamente
e ganhar-lhe, e ganhar-lhe
a ponto do impossível ficar possível?
E quando tudo parece perfeito
poder-se ir ainda mais além?
E isto de desencantar vidas
aos que julgam que a vida é só uma?
E isto de haver sempre ainda mais uma maneira pra tudo?



Tu Só, loucura, és capaz de transformar
o mundo tantas vezes quantas sejam as necessárias para olhos individuais.
Só tu és capaz de fazer que tenham razão
tantas razões que hão de viver juntas.
Tudo, exceto tu, é rotina peganhenta.
Só tu tens asas para dar
a quem tas vier buscar.





Almada Negreiros




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