Édouard Manet








Tristeza de verão


O sol, sobre a areia, é uma guerreira adormecida
No ouro de seus cabelos aquece um banho langoroso
E, consumindo o incenso em sua face inimiga,
Mistura às lágrimas um líquido amoroso.
Desta branca fosforescência a imóvel calma
Te faz dizer, entristecida, ó meus poucos beijos
“Nós não seremos jamais uma múmia sem alma
Sob o antigo deserto e as palmeiras sem seixo”
Mas a tua cabeleira é um riacho de águas intrépidas
Onde se afoga sem frio a alma que nos obseda
E descobre o Nada que não conhece mais.
Vou provar as lágrimas de suas pálpebras
Para ver se elas concedem ao coração sem paz
A insensibilidade do azul e das pedras.


Stéphane Mallarmé
(Trad. André Dick)

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