Ricardo Celma









Tu me bebes
e eu me converto
na tua sede.
Meus lábios mordem,
meus dentes beijam,
minha pele te veste
e ficas ainda
mais despida.

Pudesse eu ser tu
e em tua saudade ser
a minha própria espera
Mas eu deito-me
no teu leito quando apenas
queria dormir em ti,
E sonho-te quando
ansiava ser
um sonho teu.

E levito, voo de semente,
para em mim mesmo te plantar
menos que flor:
simples perfume, lembrança
de pétala sem chão
onde tombar.

Teus olhos inundando os meus
e a minha vida, já sem leito,
vai galgando margens
até tudo ser mar.
Esse mar que só há
depois do mar.

Mia Couto

3 comentários:

Magda Guimarães Silva disse...

Maravilha!

Osvaldo Heinze disse...

Caro Mia...
Tu és bom demias cara...
Abraços!

Osvaldo Heinze disse...

Caro Ricardo...
Se teu intuito é dar água na boca de pobres mortais...
De minha parte já estou afogado!
Abraços e parabéns!
Belíssima arte!