Jean-Baptiste Valadie

 

  

  

 

 

 




Podeis reconhecer um mau crítico porque ele começa por falar do poeta e não do poema.
Ezra Pound
 
Os homens só podem compreender um livro profundo, depois de terem vivido pelo menos, uma parte daquilo que ele contém.
Ezra Pound

Toda a arte começa na insatisfação física (ou na tortura) da solidão e da parcialidade.
Ezra Pound

A grande literatura é apenas uma linguagem carregada de sentido até ao mais elevado grau possível.
Ezra Pound

O ideograma chinês não tenta ser a imagem de um som ou um signo escrito que relembre um som, mas é ainda o desenho de uma coisa.
Ezra Pound


Jean-Baptiste Valadie

 

  

  
  
 

 


A ILHA LACUSTRE



Ó Deus, Ó Vênus, Mercúrio, senhor dos ladrões,
Me dêem na hora certa, eu imploro, uma pequena tabacaria
Com as caixinhas brilhantes
empilhadas com capricho nas prateleiras
E o cavendish de suave fragrância
o tabaco picado,
E o brilhante Virginia
avulso nas vitrines brilhantes,
E duas balanças sem muita gordura,
E as putas que chegam pra dois dedos de conversa, de passagem,
Pra jogar conversa fora, e dar um jeito no cabelo.
Ó Deus, Ó Vênus, Mercúrio, senhor dos ladrões,
Me emprestem uma pequena tabacaria,
ou me ponham em qualquer profissão
Salvo esta maldita de escrever,
onde é preciso ter miolos todo o tempo



EZRA POUND


Jean-Baptiste Valadie

 

  

  

  



 

 


 
N.Y.



Minha cidade, minha amada, minha branca!
         Ah, esbelta,
Ouça! Ouça-me, vou soprar uma alma dentro de ti.
Delicadamente pela flauta, atenta-me!


Agora sei que sou louco,
Porque há aqui um milhão de pessoas na fúria do tráfego;
Isso não é donzela.
Nem eu poderia tocar uma flauta se a tivesse.


Minha cidade, minha amada,
És uma donzela sem seios,
És esbelta como uma flauta de prata.
Ouça, atente-me!
E eu soprarei uma alma dentro de ti,
E viverás para sempre.



EZRA POUND



Jean-Baptiste Valadie

 

  

  

  

  

  

 


O SOBRADO



Vem, apiedemo-nos daqueles que estão melhor que nós.
Vem amiga minha, e recorda
·... que os ricos têm mordomos e não amigos,
E nós temos amigos e não mordomos.
Vem, apiedemo-nos de casados e solteiros.


A aurora entra com seus pezinhos
·... como uma dourada Pavlova
E estou próximo ao meu desejo.
Não há coisa melhor no mundo
Que essa hora de claro frescor
·... a hora de despertarmos juntos.



EZRA POUND
Tradução Lauro J.M. Marques


Jean-Baptiste Valadie

 

  




E ASSIM EM NÍNIVE



"Sim! Sou um poeta e sobre minha tumba
Donzelas hão de espalhar pétalas de rosas
E os homens, mirto, antes que a noite
Degole o dia com a espada escura.

"Veja! não cabe a mim
Nem a ti objetar,
Pois o costume é antigo
E aqui em Nínive já observei
Mais de um cantor passar e ir habitar
O horto sombrio onde ninguém perturba
Seu sono ou canto.
E mais de um cantou suas canções
Com mais arte e mais alma do que eu;
E mais de um agora sobrepassa
Com seu laurel de flores
Minha beleza combalida pelas ondas,
Mas eu sou poeta e sobre minha tumba
Todos os homens hão de espalhar pétalas de rosas
Antes que a noite mate a luz
Com sua espada azul.
"Não é, Ruaana, que eu soe mais alto
Ou mais doce que os outros. É que eu
Sou um Poeta, e bebo vida
Como os homens menores bebem vinho."



EZRA POUND
(tradução de Augusto de Campos)


Jean-Baptiste Valadie

 




  

   

  

 

 
  


SAUDAÇÃO


Oh geração dos afetados consumados
e consumadamente deslocados,
Tenho visto pescadores em piqueniques ao sol,
Tenho-os visto, com suas famílias mal-amanhadas,
Tenho visto seus sorrisos transbordantes de dentes
e escutado seus risos desengraçados.
E eu sou mais feliz que vós,
E eles eram mais felizes do que eu;
E os peixes nadam no lago
e não possuem nem o que vestir.


EZRA POUND
(tradução de Mário Faustino)


Jean-Baptiste Valadie

 

  

  

  

  



SAUDAÇÃO SEGUNDA




Fostes louvados, meus livros,
          
porque eu acabara de chegar do interior;
Eu estava atrasado vinte anos
           e por isso encontrastes um público preparado.
Não vos renego,
           Não renegueis vossa progênie.



Aqui estão eles sem rebuscados artifícios,
Aqui estão eles sem nada de arcaico.
Observai a irritação geral:



"Então é isto", dizem eles, "o contra-senso
            que esperamos dos poetas?"
"Onde está o Pitoresco?"
            "Onde a vertigem da emoção?"
"Não ! O primeiro livro dele era melhor."
            "Pobre Coitado ! perdeu as ilusões."



Ide, pequenas canções nuas e impudentes,
Ide com um pé ligeiro!
(Ou com dois pés ligeiros, se quiserdes!)
Ide e dançai despudoradamente!
Ide com travessuras impertinentes!



Cumprimentai os graves, os indigestos,
Saudai-os pondo a língua para fora.
Aqui estão vossos guizos, vossos confetti.
Ide! rejuvenescei as coisas !
Rejuvenescei até The Spectator.
          Ide com vaias e assobios!



Dançai a dança do phallus
          contai anedotas de Cibele!
Falai da conduta indecorosa dos Deuses!



Levantai as saias das pudicas,
         
falai de seus joelhos e tornozelos.
Mas, sobretudo, ide às pessoas práticas -
Dizei-lhes que não trabalhais
          e que viverei eternamente.




EZRA POUND

(tradução de Mário Faustino)


Jean-Baptiste Valadie


 

  

 




TENZONE


Será que as aceitarão?
          (i.é., estas canções).
como tímida fêmea perseguida por centauros
         
(ou por centuriões),
Elas já vão fugindo, urrando de terror.

Ficarão comovidos pelas verossimilitudes?
           Sua estupidez é virgem, é inviolável.
Eu vos imploro, meus críticos amistosos,
                     Não saiais por aí procurando-me um público.

Deito-me com quem é livre em cima dos penhascos;
             os recessos ocultos
Já têm ouvido o eco de meus calcanhares
             na frescura da luz
             e na escuridão.


EZRA POUND
(tradução de Mário Faustino)



Jean-Baptiste Valadie







***
   GATO MANSO


  É repousante achar-se entre mulheres bonitas.
   
Por que sempre mentir sobre tais coisas?
    Repito:
    É repousante palestrar com mulheres bonitas
   
Ainda que se falem apenas contra-sensos;
    O ronronar das antenas invisíveis
   
É ao mesmo tempo estimulante e delicioso.

       EZRA POUND
***