Bolek Budzyn

 

  

  

  

  

  


 

 

Fogo posto


Tu serás o princípio
e o meu fim

Pegando mal de amor
em chama alta

Vulcão em desacerto
e fogo posto

Tão grande que ele é
e já me mata

Maria Teresa Horta


Bolek Budzyn

 

  

  

  

  

  

 


Sem ti


Não quero viver
sem ti
mais nenhum tempo

Nem sequer um segundo
do teu sono

Encostar-me toda a ti eu não invento
Tu és a minha vida o tempo todo

Maria Teresa Horta

Bolek Budzyn

 

  

  

  

  

  

  


Diferença


Aquilo que é secreto
à tua beira
e longe de ti se torna
tão corrente

Aquilo que é vulgar
longe de ti
mas se está perto
se torna tão diferente

Aquilo que é mistério
indecifrável

se te aproximas até à minha
cama

E que se torna
raivosamente instável
se por acaso não dizes que me amas

Aquilo que é segredo
se o não escutas
e a tua beira ficam
desvairado

Maria Teresa Horta

Bolek Budzyn







***
Enleio


Não sei se volteio
Se rodopio
Se quebro
Se tombo nesta queda
em que passeio
Não sei se a vertigem
em que me afundo
é este precipício em que me enleio
Não sei se cair assim me quebra...
Me esmago ou sobrevivo
em busca deste anseio

Maria Teresa Horta
***

Brita Seifert






Os cinco sentidos


São belas - bem o sei, essas estrelas
Mil cores - divinais têm essas flores;
Mas eu não tenho amor, olho para elas;
Em toda a natureza
Não vejo outra beleza
Senão a ti - a ti!

Divina - ai! sim, será a voz que afina
Saudosa - na ramagem densa, umbrosa.
Será; mas eu do rouxinol que trina
Não oiço a melodia,
Nem sinto outra harmonia
Senão a ti - a ti!

Respira - naura que entre as flores gira,
Celeste - incenso de perfume agreste.
Sei... não sinto: minha alma não aspira,
Não percebe, não toma
Senão o doce aroma
Que vem de ti - de ti!

Formosos - são os pomos saborosos,
É um mimo - de néctar o racimo:
E eu tenho fome e sede... sequiosos,
Famintos meus desejos
Estão... mas é de beijos,
E só de ti - de ti!


Macia - deve a relva luzidia
Do leito - se por certo em que me deito;
Mas quem, ao pé de ti, quem poderia
Sentir outras carícias,
Tocar noutras delícias
Senão em ti - em ti!

A ti! ai, a ti só os meus sentidos
Todos num confundidos,
Sentem, ouvem, respiram;
Em ti, por ti deliram.
Em ti a minha sorte,
A minha vida em ti;
E quando venha a morte,
Será morrer por ti. 




Almeida Garrett


Brita Seifert

 

  

  

  

  

  

  

 
Barca Bela


Pescador da barca bela,
Onde vais pescar com ela.
Que é tão bela,
Oh pescador?


Não vês que a última estrela
No céu nublado se vela?
Colhe a vela,
Oh pescador!


Deita o lanço com cautela,
Que a sereia canta bela...
Mas cautela,
Oh pescador!


Não se enrede a rede nela,
Que perdido é remo e vela,
Só de vê-la,
Oh pescador.


Pescador da barca bela,
Inda é tempo, foge dela
Foge dela
Oh pescador!



Almeida Garrett

Brita Seifert

 
 
Declaração do artista Brita Seifert

"É difícil para mim discutir meu próprio trabalho; como a caligrafia, é algo que, a esta altura, é simplesmente uma parte de mim.
 "As pessoas sempre me perguntam: O que te inspira a pintar? “ou” Qual é o significado de suas pinturas?
“Bem, meu trabalho é em grande parte inspirado pela música, viagens e experiências pessoais. Cada pintura pode colocá-lo em outro mundo, no meio de uma história, ou simplesmente ser a expressão em símbolos dos meus sentimentos.
 As cenas no meu trabalho acontecem no crepúsculo da manhã ou nos últimos raios da noite, a fronteira entre o dia e a noite, dormir e acordar, esfumaçando a distinção entre a realidade e os fantasmas da imaginação.
Eu quero convidar o espectador para um mundo que é ao mesmo tempo familiar e desconhecido, o mundo do inconsciente e as paisagens do sonho, onde há um alegre desrespeito das leis da realidade cotidiana, e onde as imagens podem ser carregadas com um significado subjetivo que permanece enigmático e meio apenas compreendido.
 As pessoas nas minhas pinturas são principalmente um símbolo para mim e refletem - claro! - todo o meu poder e também toda a minha fraqueza. Mas, acima de tudo: calor emocional, a paixão pela vida e intensidade. E às vezes eles são embaixadores de amor e honestidade, de tolerância e abertura”.
Brita Seifert
Contato
Brita Seifert
“De Lombardije” – Lindanusstraat
6041 HA Roermond / Holanda
Telefone: +31 – (0) 475786019

  

 

 

 

 

 

Anjo És!


Anjo és tu, que esse poder
Jamais o teve a mulher,
Jamais o há-de ter em mim.
Anjo és, que me domina
Teu ser o meu ser sem fim;
Minha razão insolente
Ao teu capricho se inclina,
E minha alma forte, ardente,
Que nenhum jugo respeita,
Covardemente sujeita
Anda humilde a teu poder.
Anjo és tu, não és mulher.


Anjo és. Mas que anjo és tu?
Em tua fronte anuviada
Não vejo a c'roa nevada
Das alvas rosas do céu.
Em teu seio ardente e nu
Não vejo ondear o véu
Com que o sôfrego pudor
Vela os mistérios d'amor.
Teus olhos têm negra a cor,
Cor de noite sem estrela;
A chama é vivaz e é bela,
Mas luz não tem. – Que anjo és tu?
Em nome de quem vieste?
Paz ou guerra me trouxeste
De Jeová ou Belzebu?

Não respondes- e em teus braços
Com frenéticos abraços
Me tens apertado estreito!...
Isto que me cai no peito
Que foi?...-Lágrimas?-Escaldou-me...
Queima, abrasa úlcera... Dou-me,
Dou-me a ti, anjo maldito,
Que este ardor que me devora
É já fogo de precito,
Fogo eterno, que em má hora
Trouxeste de lá... De onde?
Em que mistérios se escondem
Teu fatal, estranho ser!
Anjo és tu ou és mulher?

Almeida Garrett

João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett nasceu no Porto a 4 de Fevereiro de 1799. No período de sua adolescência foi viver para os Açores, na Ilha Terceira, quando as tropas francesas de Napoleão Bonaparte invadiram Portugal e onde era instruído pelo tio, D. Alexandre, bispo de Angra. Foi também aí que engravidou sua companheira Luisa Castelo. De seguida, em 1816 foi para Coimbra, onde acabou por se matricular no curso de Direito. Em 1821 publicou O Retrato de Vénus, trabalho que fez com que lhe pusessem um processo por ser considerado materialista ateu e imoral. É também neste ano que ele e sua família passam a usar o apelido de Almeida Garrett.
Após o golpe de 1822, no qual o liberalismo foi derrotado, Garret partiu para o exílio na Inglaterra, de onde regressou somente em 1826. Durante o exílio Garret, influenciado pelas obras de Walter Scott e Lord Byron, compôs os poemas "Camões" e "Dona Branca". Essas obras foram publicadas em 1824 e são consideradas o marco inicial do Romantismo em Portugal.
Garret voltou a Portugal em 1832 integrando o exército de D. Pedro no cerco à cidade do Porto. Entre 1833 e 1836, foi cônsul geral na Bélgica.
Após a Revolução de Setembro foi encarregado de organizar um plano de um teatro nacional, que veio a promover.
Em 1851 recebeu o título de Visconde de Almeida Garrett. Da sua vasta obra literária destacam-se a peça de teatro "Frei Luís de Sousa" (1844), o romance "Viagens da Minha Terra" (1846) e a coletânea de poemas líricos "Folhas Caídas" (1853).


Brita Seifert

 

  

  

  

  

  

  


 
Rosa e Lírio


A rosa
É formosa
Bem sei.
Porque lhe chamam – flor
D'amor,
Não sei.

A flor,
Bem de amor
É o lírio;
Tem mel no aroma, – dor
Na cor
O lírio.

Se o cheiro
É fagueiro
Na rosa;
Se é de beleza – mor
Primor
A rosa:

No lírio
O martírio
Que é meu
Pintado vejo: – cor
E ardor
É o meu.

A rosa
É formosa,
Bem sei...
E será de outros flor
D'amor...
Não sei.


Almeida Garrett