Lisa Falzon








A TERRA



Menino índio, se estás cansado
tu te recostas sobre a Terra,
fazes igual se estás alegre,
filho meu, brinca com ela...



Ouvem-se coisas maravilhosas
ao tambor índio da Terra:
ouve-se e o fogo que sobe e desce
buscando o céu, e não sossega.
Roda e roda, ouvem-se os rios
em cascatas que não se contam.
Ouve-se mugir os animais;
ouve-se o machado comer a selva.
Ouvem-se soar teares índios.
Ouvem-se trilhas e se ouvem festas.



Onde o índio o está chamando,
o tambor índio lhe responde,
e tange perto e tange longe,
como o que foge e que regressa...


Tudo toma, tudo carrega
o corpo santo da Terra:
o que caminha, o que dorme,
o que se diverte e o que pena;
e leva vivos e leva mortos
o tambor índio da Terra.


Quando eu morrer, não chores, filho:
peito a peito junta-te a ela
e se dominas o teu fôlego
como que tudo ou nada sejas,
tu escutarás subir seu braço
que me tinha e que me entrega
e a mãe que estava partida
tu a verás tornar-se inteira.




Gabriela Mistral

Nenhum comentário: