Alberto Pancorbo









De como a terra e o homem se unem


 Fica a terra, passa o arado,
 mas o homem se desgasta;
 sangra o campo, pasce o gado,
 brota o vento de outro lado
 e a semente também brota.

Fica a terra, passa o arado
 e o trabalho é o que nos passa,
 como nome, como herança;
 fica a terra, a noite passa.

A semente nos consome,
 mas a terra se desgasta.

2.
Que será do novo homem
 sobre a terra que vergasta?
 Sangra a terra, pasce o gado
 e o trabalho é o que nos passa.

Vem o sol e cava a terra;
 a semente é como espada.
 Há uma noite que nos gera
 quando a noite é dissipada.

Vem a noite e cava a terra;
 vem a noite, é madrugada.

3.
O homem se desgasta,
 sopro misturado
 ao sopro rijo do arado.
 Vai cavando.

Madrugada sai da terra,
 como um corpo se entreabre
 para o orvalho e para o trigo.

O homem vai cavando,
 vai cavando a madrugada.


Carlos Nejar

3 comentários:

Wado disse...

Belíssimo....

Alminha Iluminada disse...

Avassalador!

Fada do Mar Suave disse...

Agradeço ao artista Alberto Pancorbo que gentilmente autorizou a postagem de sua arte neste espaço. Sua página está bela e significativa. Sua arte nos emocionou.
Agradeço a oportunidade de ter as poesias de Carlos Nejar para nosso deleite, adorei postá-las. E a todos os amigos que participaram o meu sincero agradecimento. Volte sempre, que aqui tudo é feito com carinho para você.
Beijos da Fada do Mar Suave.