Alberto Pancorbo







Soneto aos Sapatos Quietos


Os pés dos sapatos juntos. 
 Hei-de calçá-los, soltos 
 e imensos, e talvez rotos,
 
 como dois velhos marujos.

Nunca terão o desgosto 
 que tive. Jamais o sujo 
 desconsolo: estando postos,
 
 como eu, em chãos defuntos.

Em vãos de flor, sem o riacho 
 de um pé a outro, entre guizos. 
 Não há demência ou fome.

Sapatos nos pés não comem. 
 Só dormem. Porém, descalço 
 pela alma, o paraíso.


Carlos Nejar

2 comentários:

Anônimo disse...

Deslumbrante!!!

Alminha Iluminada disse...

Riqueza em detalhes e cores.