Renato Guttuso








Porque a hora é violenta


Porque a hora é violenta e tudo esmaga, abrir cabeças 
de serpente.
Há o verde sonoro 
de metais;
há o roxo 
da flor 
cujo nome 
ignoramos. 
Dedos rugem 
escura perplexidade; 
arcos rebentam 
bicos 
de pássaro. 
Sou anfíbio, 
e calo 
o que me apavora. 
Onde viajar outros dias possíveis? 
Como 
extirpar 
essa desolação? 
Eis o inevitável
campo 
de batalha;
eis a letra inverossímil, vermelho 
decapita 
amarelo.
Sinceramente,
confesso 
meu pesar:
quando ponteiros corroem pulsos, 
povoar 
mandíbulas 
para corvos.
A hora é violenta e o medo em escamas
arranha 
a pele 
da voz.
Explodir palavras-de-argila; 
degolar
leões
de pedra 
(ignotos); 
mutilar 
a escura epiderme,
em chuva 
azul-
de-agonia.
Tudo
por um 
nada
soando crânios e trompetes,
cortando (súbito)
o branco-
cinza
da manhã.
— Sri Baghavan uvaca:
Yam hi na
vyathayanty ete
purusam 
purusarsabha
sama-duhkha-sukham dhiram
so ‘mrtavaya 
kalpate.


Claudio Daniel

3 comentários:

Alminha Iluminada disse...

Fantástico!!!Arte e poesia de primeiríssima qualidade. Beijos

Anabell Lee disse...

Caríssima Fada do Mar

Você não imagina o quanto fiquei emocionada com esta postagem.
Estas imagens de Renato Guttoso mexem com minhas emoções e a poesia "Porque a hora é violenta" de Claudio Daniel bateu em minhas entranhas e cheguei as lágrimas.
Muito linda sua arte de formatadora artística. Uma união perfeita da poética visual, escrita e musical. Parabéns!!!

Fada do Mar Suave disse...

Claudio Daniel agradeço sua gentileza em contribuir com o Blog. Suas poesias emocionaram e encantaram neste espaço. A todos os amigos que por aqui passaram um forte abraço e venham sempre que a casa é sua. Com muito carinho da Fada do Mar Suave.