Sergey Ignatenko






I
Deixar correr pelo papel a mão


solta
sem ciência
sem direção

curtir mais
a cor da tinta
a curva da linha
o sentido do traço

Que

o sentido do troço
o ângulo do logo
o brilho da oclusão

Deixar pelo papel correr a mão

II

Deixar pelo papel a mão correr

e ver depois
se desenhos
ou palavras
se riscos
ou recados

Lembrar sempre
que desenhos são palavras
palavras são desenhos
e todos são riscos
todos são recados

Depois respirar fundo
mergulhar na inspiração
até calar a Babel
então ao expirar

Deixar correr a mão pelo papel

III

Deixar pelo correr a mão papel

e que a mágica se repita
mil e tantas e muitas vezes
até que a mão se solte
ligando-se assim à fonte
à cascata do aguadeiro
que generosa se derrama
levando o que é vivo a brilhar
até ser capaz
de passar a luz adiante

Deixa


Eduardo Tornaghi