Bruno Torfs










RUÍDOS NO SILÊNCIO



Se eu quero ficar só, é porque preciso da solidão para existir. E meu silêncio não deveria ressoar como um canto de dor e saudade aos que deseja me ouvir. É na gruta úmida da solidão com que venho buscar as palavras para ofertar. É certo que nem sempre encontro, e por vezes volto com bolsos cheios de pedras... Eu preciso silenciar-me para ouvir as palavras que ecoarão pelos bosques brancos; é do silêncio que minhas palavras provêem, e é para o silêncio que elas irão (...). É preciso silenciar o silêncio tocar o intocável, sentir a dor última que é tentar fazê-lo. (...) Já faz algum tempo que comprei um gato branco de porcelana, agora me arrependi. Seu olhar guarda mistérios e um extremo desejo de me possuir. Decididamente, ficarei com os gatos vivos, pois muito eles devem a mim (...). Também comprei uma estante para guardar meus livros. Muitos deles, apressadamente protestaram. Queriam mesmo é ficarem bagunçados, espalhados pelo chão, pelos cantos, pela cama, para ficarem visíveis àqueles os quais eles bagunçarão as mentes. Então fui forçado a espalhá-los pelo quarto inteiro, e em cada um, este aviso escrevi: “Aqui não há obediência, decidem por si mesmos!”. Respeito muito os livros. E não acho desperdício de espaço ou de tempo, empilhar livros e mais livros, é uma garantia para uma velhice fértil e confortante. Se bem, que eu já quebrei tantos espelhos que meu futuro está prestes a torna-se um mosaico com imagens distorcidas e sem finalidade. Por enquanto, ando com essa desconfiança que as sombras projetadas na parede branca do meu quarto, sejam à sujeira do que era puro. (...) As palavras vêem e se vão... Perdendo-se no infinito de meus pensamentos, pela constante preguiça de anotá-los. Das cores faço palavras, da tela papéis virgens. E se me atrevo a escrever é porque a pintura deixou de me entender. (...) guardo a serenidade dos anjos negros que ousaram viver seus desejos profanos e hoje se encontram resignados no lado mais obscuro de minha alma. (...) Foi preciso que o sol encontrasse a lua pela madrugada, no último dia de oferenda para que meu pedido fosse atendido. Então, o círculo, mas vital se formou ao meu redor, e forçou-me a romper as muralhas da minha covardia, e foi que escolhi viver minha mortalidade de amores plenos, ao invés de padecer toda uma eternidade de devoção vazia. (...) Comecei a devorar carne com muito prazer. (...) Por fim, quando minha mente fica tomada por pensamentos violentos de remorso e libertação, nem mesmo o sono é capaz de silenciar a voz estridente, só o medo faz companhia. (...) Aquele que dá-me água, e coloca-me sede, é o mesmo que dá-me vida e depois me enterrar!

(...)



Sindri Nathanael



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